Hangover!

Hangover, palavra inglesa que significa “ressaca”.

Lembrei dela por causa do Hang, o Véio da Havan, que deixou o país de ressaca nesta quinta-feira, depois do porre que foi sua apresentação burlesca na CPI da quarta.

Vestido de Zé Carioca, encarnou a malandragem do papagaio (sem a graça dele, porém) para tentar driblar os senadores que tiveram de dançar miudinho pra que o recinto não virasse um ringue de luta livre.

Não chegou a tanto mas acabou virando um picadeiro com a exibição de uma enorme palhaçada protagonizada pelo depoente e pelo “esquadrão da morte” bolsonarista, que saiu em defesa do Véio como se o tal Zé Carioca fosse o pai deles. (O que fez esse senhor ser tão paparicado pelo governo federal e pelos governistas a ponto de no dia do depoimento ter tomado café da manhã com senador – Jorginho Mello – e se reunido com o líder do governo, Ricardo Barros, antes da audiência na CPI?).

Logo no começo, depois que Luciano Hang usou o espaço para fazer propaganda gratuita de si próprio e de suas trocentas lojas espalhadas pelo país, o relator Renan Calheiros tentou começar o inquérito, mas a cada pergunta era interrompido pela tropa de choque governista.

Já se esperava por isso, mas apelaram tanto na tentativa de tumultuar que Flávio Bolsonaro pediu a palavra por ter se sentido “atacado” por Renan quando ele perguntou ao depoente: “qual a sua ligação com a família Bolsonaro?”

Não entendi. Como assim, Flavito? Como se ofender diante disso? A pergunta não justifica essa interrupção, a não ser que até você ache que pertencer à família Bolsonaro seja um insulto.

Vídeos que desmentiam as falas do admirador da Estátua da Liberdade foram mostrados, provando que não é só cabelo que falta naquela cabeça. Em um deles, defende com unhas e dentes a eleição de Bolsonaro para “afastar o comunismo do Brasil”. Diante dessa gravação Omar Aziz, presidente da CPI, não se conteve e perguntou: “O senhor acredita mesmo nisso que está dizendo”? Ironizando, claro, porque durante o governo anterior, que Hang considera comunista, seus negócios cresceram muito, o que não acontece normalmente nesse tipo de regime político.

Continuou crescendo da mesma forma agora sob a batuta de um maestro da direita, mas não sem uma mãozinha do jeitinho brasileiro. O malandro que foi e que é totalmente contra o lockdown adotado por alguns governadores para conter a pandemia conseguiu abrir suas portas misturando arroz e feijão às calcinhas e cuecas de suas lojas, já que a medida determinava que só serviços essenciais funcionassem. E comida é essencial.

O papagaio saiu de lá se achando o rei da cloroquina preta, digo, da cocada preta, sob aplausos do cordão dos puxa-sacos que cada vez aumenta mais. (Em que pau irão amarrar suas éguas depois de 2022?)

Segundo analistas políticos,  essa oitiva da última quarta-feira da Comissão Parlamentar de Inquérito com Luciano Hang teria sido um tiro no pé da própria CPI. Alguns chegaram a dizer que o depoente dançou rumba na cara dos senadores, que a bancada governista saiu vitoriosa na defesa do negacionista financiador de fake news e sonegador de impostos. (Ele deve R$ 2,5 milhões à Receita Federal).

Já a torcida do time adversário concluiu que o Véio da Havan pagou o maior mico diante das declarações registradas em vídeo, onde ele aparece puxando o saco do presidente, o da Prevent Senior, mesmo sendo ela investigada pela morte da vários pacientes por tratamento inadequado, inclusive a da sua própria mãe, e naquele em que aparece com ameaças veladas de desemprego aos funcionários que não apertassem o 17 nas eleições de 2018.

Eu continuo achando que essa sessão da CPI foi um porre e que o Luciano Hangover causou uma tremenda ressaca de depoimentos indigestos que nem Engov dá jeito!

Esta crônica foi originalmente publicada em O Boletim, em 1º/10/2021. 

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