Educados cães chilenos

A inusitada quantidade de cachorros nas ruas não foi o que eu achei mais surpreendente na minha viagem ao Chile, em 2009. Curioso mesmo foi descobrir que, mais civilizados do que os humanos brasileiros, esses cães só atravessavam as avenidas nas faixas de pedestres.

Mesmo daltônicos, como são os cachorros, eles, misteriosamente, respeitavam com todo rigor o sinal vermelho do trânsito.

Eram cães gordos, bonitos, muito bem alimentados por transeuntes daquele tipo que adora animais.

Uma cena bastante comum era ver pessoas, com sacos de ração nas mãos, abordarem os cães nas praças. Um privilégio que antes eu imaginava ser reservado exclusivamente aos pombos.

Uma chilena me explicou que não havia mais perreria para capturar e abrigar os perros, e por isto eles proliferaram. Para sorte deles, muitas pessoas resolviam adotá-los, mas sem levá-los para casa.

Foi uma experiência inesquecível observar que os cachorros sempre aguardavam pacientemente o semáforo ficar verde, para então atravessarem em grupo as avenidas movimentadas.

Pelo que me explicaram na época, cães são daltônicos, e, portanto, não conseguiriam distinguir as cores verde e vermelha. Muito menos entender o seu significado.

Porém, depois de muitos sustos e atropelamentos, eles aprenderam, com o tempo, a esperar pelo momento exato em que os humanos começavam a atravessar, para irem atrás em segurança.

Entenderam que, por algum motivo, atravessando com os humanos não eram atropelados.

Seguiam as pessoas também na travessia das faixas de pedestres sem semáforo. Eu, que me orgulho por essas faixas serem rigorosamente respeitadas por pedestres e motoristas em Brasília, descobri que no Chile até os cães sabem perfeitamente como utilizá-las.

Me lembro de ter saído à noite no Dia de São Valentim, em Viña del Mar, e encontrado cães deitados em locais próximos às portas de restaurantes, bares e hotéis, sem serem incomodados pelos humanos.

Mas isto foi em 2009. Não sei se hoje em dia os perros chilenos voltaram a ser perseguidos e mandados para uma perreria. Não merecem, pois não incomodavam ninguém e os chilenos pareciam encarar a situação com total naturalidade.

Além de não ver nenhum cão ser multado por atravessar a rua fora da faixa, outra coisa muito agradável foi confirmar in loco que o Chile, com suas cidades limpas, seguras e bem organizadas, é mesmo um país com nível de vida muito próximo ao do mundo desenvolvido.

Com a particularidade de registrar não somente o mais alto IDH da América do Sul, mas também um surpreendente Índice de Desenvolvimento Canino.

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