Cem Anos de Podridão!

Estava aqui pensando em como existem ainda algumas pessoas tão longevas com toda esta vida doida que a gente leva. Tem de ter um coração muito forte pra aguentar todo o estresse do dia a dia ou um gene dos bão, como dizem por aí.

Minha mãe nasceu em novembro de 1920, já passou por guerras, fome, pandemias, viu muita desgraça, e continua aí firme e forte.

Atribuo isso a uma vida mais suave na nave. Ela e alguns outros tantos seres pertencem a uma geração que não passava raiva quando precisava pagar um boleto e o sistema estava fora do ar. Aliás, pelo que me lembro, nem banco eles frequentavam. Quando chegava a conta de luz, iam direto na Light. (Naquela época era essa a empresa que fornecia energia na minha cidade. Até tinha um bordão envolvendo o nome da companhia elétrica que todo mundo usava. Quando alguém contava algo de pouco ou nenhum interesse pro interlocutor, ele de pronto respondia “e eu com a Light?” Até hoje não sei o porquê disso.) Não tinham de ficar putos da vida quando estavam assistindo ao programa preferido e ele era interrompido porque choveu na pequepê e a TV por satélite saiu do ar. Não precisavam atender aos milhares de robôs que se acham no direito de ligar na casa da gente, de manhã, à tarde, à noite, a semana inteira e até aos domingos e feriados pra dizer “olá, você sabia que a doutor de todos…” (Nunca ouvi o resto porque a gravação fica abafada pelo som de um vtnc inevitável).

Na área da política, se contentavam com aqueles do tipo “rouba mas faz”, sem contestar muito porque sabiam que no fundo “é tudo igual”. Então para que reclamar, se tinha comida no prato?

Hoje tô apostando todas as fichas na ciência e na tecnologia para que continuemos longevos, mesmo sem aquela paz de antes. Que a energia entre nas nossas casas cada vez mais firme e forte, que a internet seja cada dia mais rápida e que as pessoas vivam por muitos e muitos anos. Assim, pelos menos há uma chance de que nossos netos ou bisnetos fiquem conhecendo o verdadeiro conteúdo do processo arquivado no último dia 3 de junho pelo Exército Brasileiro contra o ex-ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello.

Gente! Ali deve ter uns podrões dos brabos para que o Exército tenha tomado uma atitude tão drástica como essa. Por que esconder um processo por cem longos anos? Se foi por sugestão do presidente da República que manda e desmanda na entidade, não tem nenhum sentido. Em cem anos não vai sobrar nem o pó da rabiola do mentecapto ou de seus mentecaptinhos.

O processo em que Pazuello foi acusado de participar de campanha eleitoral de Jair Bolsonaro, mesmo sendo ainda um general da ativa, o que é proibido pelas leis da casa, foi engavetado nesses moldes e ninguém tasca.

Olha, sei não, mas se estão querendo esconder tudo isso da gente é porque o buraco deve ser mais embaixo.

Me bateu que o fato de Bolsonaro chamar Pazuello de meu “gordinho preferido” em público, sem nenhum pudor, possa incorrer numa afronta às normas e aos bons costumes dos viris integrantes das nossas forças armadas. Será?

Tô doidinha pra saber. Quem sabe a ciência avance mais rápido ainda e faça com que aquele negócio do filme De Volta para o Futuro aconteça logo, e a gente possa ver os armários que foram mandados pro escuro do século seguinte serem abertos, com muita light, ainda nos dias de hoje.

Curiosidade mata, mas eu quero estar vivar pra ver isso.

Esta crônica foi originalmente publicada em O Boletim, em 11/8/2021. 

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