Eita semaninha infectada essa!
O Coronavírus, que não passava de uma fantasia até a terça-feira passada na cabeça do nosso presidente, está se transformando numa poderosa arma destruidora de vidas e, ao que tudo indica, de neurônios também, pelo tanto de besteira que se tem ouvido e visto por aí.
Jair Bolsonaro, que “não convocou” passeata pró governo e contra as instituições, gravou um vídeo que foi ao ar na quinta, “desconvocando” o povo a sair às ruas no domingo, 15/03.
Mas, talvez por não ter sido muito convincente, alguns grupos saíram assim mesmo sem se importar com a quantidade de Coronavírus que estariam disseminando ou contraindo.
Quem também não se importou com isso foi o próprio presidente, que, desobedecendo a orientação de fazer quarentena, já que até aquele momento quatro pessoas da sua comitiva estavam positivas para o vírus (agora já são 22), foi apertar mãos e fazer selfie com os fanáticos por mitos.
Dias depois, questionado pelos jornalistas sobre essa insensatez, declarou: “Fiquei do lado do povo sabendo dos riscos que eu corria”.
Oi? Não entendi, presidente! O senhor, que junto com sua comitiva trouxe dos esteites um estoque de Coronavírus na bagagem, era quem estava correndo risco? Não seria o contrário, não?
Como se não bastasse esse ato irresponsável, ele e seus filhos ainda saíram espalhando por aí que a China criou esse vírus em cativeiro para se dar bem. Disse que toda vez que a economia chinesa vai mal eles inventam um vírus.
Oi, de novo, senhor presidente. Não entendi! Como é possível um país que interrompe toda sua produção (nem na Wish tá dando pra comprar bugigangas) sair lucrando com isso? Algum economista aí para explicar essa “viagem”?
E no meio da semana, quando o calo começou a apertar por aqui, o ministro da Saúde Henrique Mandetta, o único lúcido nesse cabaré, adotou medidas mais drásticas para tentar combater a propagação do vírus, e uma delas foi a orientação para que as pessoas fiquem em suas casas.
Isso gerou indignação no nosso Posto Ipiranga, que buzinou: “Se ninguém sair de casa, a Economia vai entrar em colapso”. Cê jura que cê falou isso, Paulo Guedes?
Se o senhor não entendeu a dimensão da coisa, vamos desenhar. É o seguinte: por um tempo ninguém sai pra trabalhar, pra estudar, pra se divertir ou pra consumir. Mas, neste momento, se todos saírem, em pouco tempo uma boa parte da população não vai mais sair para trabalhar, pra estudar, pra se divertir ou pra consumir, para todo o sempre, amém! Capisce?
Em meio à tumultuada coletiva de imprensa na última quarta-feira, Didi Mocó, Dedé, Mussum e Zacharias finalmente assumiram a gravidade do fato, colocaram suas máscaras nos olhos, nas orelhas, no pescoço, e tentaram prestar esclarecimentos sobre as novas medidas tomadas em relação ao Covid-19, mas não foram além do que já sabíamos.
Agora, apesar das trapalhadas, aos poucos, e com a ajuda da imprensa, dos bombeiros e de alguns voluntários, o povo parece que está se dando conta de que o isolamento não se faz nas praias ou nos shoppings.
E assim, meio que aos trancos e barrancos, quem sabe os resultados não se assemelhem aos da comunista China inventora de vírus, ou aos daquela “cidade” (Bolsonaro chamou a Itália de cidade, mas logo corrigiu) muito parecida com Copacabana que também tem muitos idosos?
Oremos!
Esta crônica foi originalmente publicada em O Boletim, em 20/3/2020.