Desculpe, Leitor, a nota é curta como curtíssima é minha paciência com esse governo sem eira nem beira: despreparado, desestruturado, sem cultura, sem educação. Um governo que vive exigindo que o levem a sério, que pede por respeito, que se diz ignorado.
Mas que tem uma qualidade: é sincero. Bolsonaro se declara despreparado para o cargo!
Ele está certo. Não tem nenhuma qualificação para o cargo. Assim como não teve para prosseguir na carreira militar e como não teve nenhum brilho na carreira parlamentar. Aos 65 anos, ainda está, tal qual um adolescente, em busca da rota que deve seguir. Talvez o motivo seja este: preocupado em orientar e cuidar dos filhos, esqueceu de cuidar de si e de sua vida.
No excelente artigo de Juan Arias, do El Pais, “Bolsonaro se isola obcecado por seu messianismo perigoso”, transcrito no Blog do Noblat, li que “o Brasil vive um daqueles momentos históricos em que um erro de cálculo pode arrastar o país para uma aventura da qual um dia terá de se arrepender”.
Temo que esse momento histórico acabe de acontecer. Trocar o ministro da Saúde quando ainda estamos no início de uma pandemia que vem matando milhares de pessoas no mundo inteiro foi um erro de cálculo que assustou-nos a todos. Luiz Henrique Mandetta conseguiu, por obra e graça de seu modo firme, educado e culto de falar, convencer o Brasil, de norte a sul, da única arma poderosa que um país despreparado como o Brasil tem: o isolamento social.
Em que o ministro errou a ponto de levar o presidente da República a querer demiti-lo? Ele só cometeu um erro. Foi tão correto, inteligente, preparado e dedicado ao posto que ocupava que despertou nos brasileiros uma admiração incomensurável. Foi o que bastou para despertar o ciúme e a inveja do inseguro presidente que sentiu ameaçada pelo dr. Mandetta sua ambicionada reeleição em 2022.
Coitado. É duro, muito duro, quando se é psicologicamente fraco como Bolsonaro, sofrer por ciúmes. Ainda mais quando a reeleição é sua única ambição, e sua segurança, pois nela ele apóia o continuado poder dos zeros, seus filhos, que, sem o pai, não são nada.
Pobre Brasil. Acaba de trocar o piloto experiente por um co-piloto inexperiente, com o avião com o tanque quase vazio. O que será que vai nos acontecer?
Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, na Veja, em 17/4/2020.