Voltando agora do supermercado e tá tudo bem por lá. Não tem incêndio nenhum!
Tudo intriga daquele bobão do Leonardo DiCaprio que está fazendo campanha para que boicotem produtos brasileiros porque o governo não está dando a mínima pros incêndios da Amazônia.
O ministro do Meio-Ambiente até mandou o artista enfiar o dinheiro dele num lugar quente, por causa dessa fofoca.
Salles e o vice-presidente Hamilton Mourão já desmentiram essa “fake news” espalhada pelos fogueteiros da oposição e até soltaram um vídeo com a mata tudo verdinha, com criança falando em inglês e até com um mico leão-dourado ilustrando o filminho.
Tá certo que não tem mico-leão-dourado na Amazônia. Ele só é encontrado na Mata Atlântica, mas isso não quer dizer que o resto não seja verdade, porque, como sabemos, o governo nunca mentiu dizendo que não há incêndio na Amazônia.
Aquela fumaceira toda que está se espalhando até por outros países da América Latina deve estar vindo daqueles cachimbos da paz que os índios ficam fumando o dia inteiro. Afinal, por causa dessa pandemia, estamos todos mais ansiosos e, consequentemente fumando mais.
Acho que fiz uma pequena confusão aqui, e misturei os assuntos. No supermercado fui para comprar alimentos e aí sim tem um incêndio danado.
Não porque estão “queimando” os preços, muito pelo contrário, estão queimando é as pestanas do consumidor que tem de fazer malabarismo pra botar alguma coisa dentro do seu carrinho.
Os preços dos alimentos estão disparando e o povo se desesperando.
Mas, felizmente, logo são acalmados pelas explicações que vêm lá de cima na voz do seu Mourão.
Tipo, calma gente esse probleminha do arroz vai passar (como se fosse só ele o vilão). Isso só tá acontecendo porque a população tá nadando em dinheiro com aquela injeção de R$ 600,00 que o governo gentilmente distribuiu. É a lei da oferta e da procura, sacomé?
A ministra da Agricultura também deu um alento aos brasileiros: a safra de arroz tá uma beleza e logo agora em janeiro (tá certo que a gente está meio atrapalhada com as datas, mas janeiro é só em 2021, certo?) ela sai do forno.
Enquanto isso o presidente da Associação Brasileira de Supermercados João Sanzovo Neto sugeriu que se substitua o arroz por macarrão.
E aí, seu João, o que a gente fala pro feijão? Que o companheiro dele está de férias e que partiu para aqueles mundos que pagam sua passagem em dólar?
Tadinho! Só se a gente tentar driblar seu cérebro cozinhando aquele macarrão sementinha. Ele até é parecido com o nosso agulhinha do dia-a-dia e talvez o carioquinha, distraído, nem perceba. (Só não dá pra fazer risoto, porque aí sairia um macarroto meio sem graça)
E enquanto todos tentam nos convencer de que tudo é nuvem passageira que com vento se vai, vamos continuar driblando nossos cérebros. Logo chega janeiro e, se não for a vez de o feijão viajar, o brasileiro vai poder se deliciar novamente com seus mouros e cristianos, juntinhos no prato.
Mais uma “boa” notícia! Li hoje que o PT quer ganhar as eleições para “reconstruir o Brasil”. O mesmo que eles quebraram.
Melhor parar por aqui e ir preparar meu arroz doce. Desta vez com macarrão e com muita canela pra sair por aí procurando onde é mais em conta. Deve ter diferença de preço, já que Bolsonaro pediu aos donos de supermercados que maneirem, que deixem seus lucros perto do zero.
Se obedecerem, já pensaram quantos carrinhos o presidente vai poder encher com seu cartão corporativo de gasto ilimitado?
PS: o texto contém ironia!
Esta crônica foi originalmente publicada em O Boletim, em 11/9/2020.