Independentemente do seu destino no governo, Abraham Weintraub vai para a galeria dos piores ministros da Educação de todos os tempos. Sob seu comando a pasta perdeu qualquer relevância, deixando de fazer o mínimo quando deveria ser protagonista, especialmente em momentos tão cruciais como o da pandemia.
Ao ministro caberia liderar uma grande articulação com estados e municípios para mitigar os efeitos da suspensão das aulas presenciais. Deveria apoiar os entes federativos para o ensino à distância, desenvolvendo ou avaliando plataformas e conteúdos, dotando escolas e estudantes com equipamentos e ampliando o acesso à internet. Tivesse compromisso com a Educação, teria estabelecido intercâmbio com outros países para absorver experiências bem sucedidas no período da quarentena ou para o planejamento para a retomada.
Nada disso aconteceu. Weintraub ausentou-se de todas as suas responsabilidades, entre elas a de buscar soluções para a perda de receita das redes públicas. Algo que pode chegar a R$ 28 bilhões, conforme o tamanho do tombo do PIB.
Infelizmente, o financiamento da Educação não faz parte de suas preocupações. Não se envolveu nas negociações junto ao Congresso Nacional para a aprovação do novo Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb). Tampouco há de sua parte a menor diretriz e suporte para o retorno das aulas presenciais.
No rosário dos erros está o Enem, que ele só aceitou adiar depois de o Senado aprovar projeto nesse sentido. Como a Câmara de Deputados faria o mesmo, o ministro deu o braço a torcer, a contragosto. Não foi a única lambança em relação ao principal sistema de seleção para o ingresso na universidade. Causou o maior tumulto ao divulgar notas erradas do exame do ano passado.
Em pouco mais de um ano, Weintraub desestruturou o Ministério ao promover uma constante dança de cadeiras em secretarias e órgãos estratégicos, como o INEP, a Secretaria de Educação Básica, a Secretaria Executiva e o FNDE.
Não pode sequer argumentar que pegou uma pasta em situação de terra arrasada. Ao contrário. Nas gestões dos ministros que o antecederam, Mendonça Filho e Rossieli Soares, foram dados passos importantes que caberiam ao novo governo levar adiante. Entre eles, a reforma do ensino médio e a definição da Base Nacional Curricular Comum.
Weintraub instalou um estado de guerra permanente contra tudo e contra todos, em particular contra o saber.
Tratou as universidades como se fossem um antro de balbúrdia e de “maconheiros” e afrontou sua autonomia por meio de uma Medida Provisória que o presidente do Congresso em boa hora devolveu por ser inconstitucional.
Mestre em fazer inimigos, entrou em guerra declarada contra o Supremo Tribunal Federal e o Congresso Nacional. Como se não bastasse, o MEC divulgou nota oficial que transformou o denuncismo em política oficial de Estado, prática abjeta usada e larga escala na Revolução Cultural da China, também adotada na Alemanha de Hitler e na União Soviética de Stalin. Weintraub e a ministra Damares Alves chegaram a anunciar a criação de um canal no qual alunos poderiam denunciar professores.
É quase um milagre ter sobrevivido no Ministério em meio a tanta beligerância e sucessão de erros. A explicação está na habilidade de compensar sua incompetência gigantesca pela sabujice ideológica. Para agradar o chefe e seu clã, transformou a educação em um teatro de operações de uma “guerra cultural”.
Toda vez em que o ar cheirou queimado, radicalizou o discurso para provocar a solidariedade do núcleo familiar do presidente e de seus fiéis. Como o mais radical dos ministros ideológicos, caiu nas graças das bases bolsonaristas. A divulgação de suas palavras na gravação da reunião ministerial o transformou em herói de uma militância fanatizada que passou a enxergá-lo como a encarnação da “pureza revolucionária” do bolsonarismo.
Ao dobrar a aposta de suas agressões ao STF, deu um passo maior do que as pernas. Tornou-se um problema para o presidente. Jair Bolsonaro precisa restabelecer pontes com os tribunais superiores em sua própria estratégia de sobrevivência. Com Weintraub brigando dia sim e outro também isso é praticamente impossível. A cabeça do ministro passou a ser pedida por uma frente amplíssima que vai dos militares ao centrão, o neo-aliado do presidente.
Mas como jogar Weintraub ao mar sem desagradar as bases que sonham vê-lo como vice na chapa de Bolsonaro em 2022? E como resistir às pressões dos próprios filhos, principalmente no momento em que bolsonaristas começam a ser alvos de operações da Polícia Federal?
Como adquiriu luz própria, Abraham Weintraub faz as contas do que mais lhe convém. Se recua para o fundo do palco em um cargo de menor visibilidade, ou se prefere ser imolado para adquirir a condição de mártir e mais à frente colher os louros eleitorais de seu sacrifício.
Na hipótese de ser enxotado pelo presidente, isso não significará que a Educação viverá dias melhores. Quando Ricardo Velez Rodriguez foi defenestrado, dizia-se que era impossível alguém pior do que o ministro demitido. Weintraub, o gigante da incompetência, provou que o ruim sempre pode piorar.
Bolsonaro destampou a garrafa e agora não consegue controlar o gênio que criou.
Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, na Veja, em 17/6/2020.