Pirou! É o que certamente diriam deste profissional se o vissem descendo a Sumaré diretamente para o Bar do Alemão mas entrando no restaurante ao lado! Imagino um colega de passagem parando o carro e me chamando, ô cara, você está louco, o Alemão é o do lado. No entanto… buscava exatamente o Não Lembro o Nome, de comida regional.
Não para me alimentar, mas com o propósito de entrevistar um cidadão para um frila. Seriam umas nove da noite de não lembro o ano, mas não menos distante do que a década 1980. Imagino que tenha escolhido o restaurante pois assim, depois da entrevista, eu iria diretamente para o Alemão, como fazia muitas vezes com os coleguinhas do Jornal da Tarde, depois do trabalho.
(Em jornalismo, essa fala toda que não vai ao ponto é chamada nariz de cera, em desuso desde o começo do século passado.)
Bem, vou ao ponto. Sentados à mesa do restaurante, comecei a entrevista sobre não lembro o quê. O tempo passando e de repente alguém chega da rua e diz “o Alemão fechou!”. Pedi licença ao entrevistado, dei uma espiada, e vi realmente as portas cerradas, com a seleta clientela fora.
Ao fim da entrevista, já instalado no Alemão, soube o que tinha havido. Entre a freguesia estavam não um, mais dois bêbados chatos. Implicavam com o garçom, com o vizinho de mesa; ou os “alugavam” para aguentar sua euforia. Eram um homem e uma mulher que faziam número solo, não se conheciam.
Às tantas as vítimas fizeram um conchavo com Dagô, o dono do bar. Logo ele avisou que o chope tinha acabado e ia fechar a casa. Pôs todo mundo para fora. Os chatos reclamaram, deram algum trabalho, mas saíram.
Os evacuados instalaram a bêbada em um táxi; o bêbado acabou tomando seu rumo. Então Dagô reabriu a porta e voltaram todos para suas mesas, aliviados e felizes.
Isto que conto não é ficção. Realmente aconteceu.
A clientela do turno da madrugada, jornalistas, músicos da noite (que às vezes davam uma palinha), enfim, gente “do ramo”, muitas vezes chegava em grupo. Assim que se sentavam, o antológico Sinval, o garçom, começava a servir chope, sem que lhe pedissem, pois sabia quem tomava a bebida. Trazia duas canecas para cada um. Pois o freguês ia virar a primeira de uma vez, e gritar: “Sinval, mais uma”. Assim, servia logo a segunda também.
O serviço estava sujeito a interrupções. Pois em dado momento, Sinval saía para a calçada e se atracava com o orelhão. Sem urgência, conversava o que tinha que conversar; depois entrava no bar e o serviço recomeçava.
Os habitués do Jornal da Tarde muitas vezes se instalavam no mezanino. Ali corria, além do chope, vodca, uísque. E ia a madrugada. Muita conversa, muito riso, algum discurso… e Sinval, mais uma! Conta-se que o grande Ivan Ângelo, secretário de redação do JT, dizia esperar o dia em que o mezanino despencasse para sair com a manchete: Choveu bêbado no Bar do Alemão.
Julho de 2020
Nota do administrador: Os bêbados chatos de que fala o Valdir eram, sem dúvida alguma, amadores. Muito diferentes dos jornalistas e dos músicos que eram os assíduos do Alemão, todos profissionais. Na época, dizia-se, por exemplo, que bêbado profissional não frequenta bares nas semanas que antecedem o Natal, porque eles se enchem de amadores, gente chata, que fala alto e no fim da noite insiste em assassinar “Carinhoso”, aquela pérola.
Bom, bom, muito bom, o comentário do administrador. Pena que contido. Ele podia acrescentar muito mais fatos saborosos do lugar. Ainda está em tempo…