A escola de samba do capitão

Como quem pode, pode, ele tem todo direito de decidir criar uma escola de samba para desfilar na avenida.  O carro principal teria a forma de um palanque, com um microfone que ele empunharia durante o desfile, não para cantar (embora, na empolgação pudesse fazê-lo), mas para falar.

No embalo, apresentaria algumas das realizações programadas para seu segundo mandato.  Um trem bala correrá entre Rio de Janeiro e Brasília, e terá um carro especial para a presidência da República. Outro para a bancada da bala. Também vai estimular a produção de hortaliças e palmeiras de palmito na Amazônia, e extinguir o Dpvat.

O risco é de que perca o pé comece a xingar desafetos políticos e pessoais, e esses  profissionais  insuportáveis que têm a mania de fazer perguntas. Sobrando ainda para chefes de Estado obtusos que não se rendem aos seus elevados preceitos.

Isto tudo em altos decibéis, que chegariam ao público concentrado nas arquibancadas – e que, arrebatado , soltaria o refrão: “Mito, mito, queremos palmito!”.

No segundo carro, estariam os três filhos do presidente. Para eles não haveria microfone, mas teclado.  Escreveriam mensagens, que surgiriam em um telão (a consagração!) instalado no alto do carro. O do meio dos três certamente se empolgaria e destilaria agressões pesadas para todos os lados. Mas, como era carnaval, a platéia entenderia como piada e acharia graça – um bom exemplo a ser seguido.

A bateria? Só aquelas que estavam sob o capô dos carros que levavam os palanques. Para não faltar inteiramente nesse quesito, seria instalada uma mesa de som. Pode-se imaginar o que poderia acontecer.  Na hora certa, quando os carros haviam percorrido metade da pista do sambódromo, o operador da mesa dá um on  para liberar a seleção de hinos e marchas militares – mas estoura em som altíssimo: “Salve o Corinthians, o campeão dos campeões”.

O equipamento havia sido sabotado por um petista.

Janeiro de 2020

 

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