Nesse dia nós, brasileiros atentos que acompanhamos as notícias diárias, tivemos certeza de quem são os componentes do ministério Bolsonaro & Filhos. Sabíamos que a maioria não era flor que se cheire, mas não sabíamos até que ponto eram insalubres. Depois de ver o vídeo da reunião ministerial desse dia 22, tivemos a certeza de quem são.
Claro está que a maioria é a imagem e semelhança do chefe, o presidente da República com o menor vocabulário que já se viu num político. Para ele, porra é vírgula. Sua falta de instrução é absoluta e dá até pena ver o esforço que faz no cercadinho do Alvorada para completar uma frase, sempre enfeitada com palavras chulas.
Mas voltemos à já célebre reunião.
Começo com Paulo Guedes, ministro da Economia que, em tom enfático e agressivo, declarou sua opinião sobre o Banco do Brasil. Para ele, essa instituição criada em 1808 por Dom João VI, “aquela porra”, como ele a definiu, devia ser vendida. Além disso, ele exprimiu seu apoio ao presidente para a criação, em Angra dos Reis, de uma Cancún tupiniquim, com jogos de azar e belas raparigas preparadas para agradar aos frequentadores do resort. Será que nós precisávamos de um Posto Ipiranga formado em Chicago, um leitor de Keynes (“no original” como ele fez questão de exibir) para dar uma opinião tão favorável ao desenvolvimento econômico do Brasil? Custo a crer.
E o Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente? Esse sujeito disse, muito calmamente, e com ares de quem estava sendo um grande ministro, que devíamos aproveitar que a Imprensa estava ocupada com a pandemia provocada pela Covid 19 para passar logo a boiada e acabar com essa delicadeza em relação ao meio ambiente. Chega de proteger nossas matas e nossos rios. Vamos logo ganhar dinheiro!
Não posso esquecer de falar na Damares que, trepando numa goiabeira, viu Jesus. Ela sugere que se processem e prendam todos os governadores e prefeitos! Para que servem essas pessoas, não é, dona Damares? Basta, para administrar o país, os bolsonaristas de raiz, como ela. Sempre com o dedinho em riste, como velha mestra que foi.
E o titular da Educação? Aquele que quando encontra uma palavra com dois esses ou ç fica em dúvida sobre qual a grafia usar? E que sempre erra. Aquele que se acha tão lindo que já se fotografou fazendo a barba para postar em suas redes sociais. Pois esse ministro, de nome Weintraub, disse, em tom apropriado a ator de filme de terror, apontando para a Esplanada dos Ministérios e falando do STF : ‘Eu, por mim, botava esses vagabundos todos na cadeia, começando no STF’. (Já eu, por mim, botava o Weintraub na cadeia…)
Enquanto esses ministros e outros davam suas breves e estúpidas declarações, Bolsonaro não parava de falar e de exibir seu vasto conhecimento de palavras escatológicas. O homem é um moinho de baixarias. Eu só me lembro que logo após sua eleição, numa entrevista, um jornalista perguntou à sua mulher como era conviver com pessoa tão difícil. E ela respondeu, sorridente: “Vocês ainda verão como erram em relação a ele. Meu marido é um príncipe”!
Será que agora ela já se convenceu que ele pode ser tudo, menos um príncipe? Sei lá. Há gosto para tudo. Até para ser a mulher de um Bolsonaro!
Bolsonaro & Filhos diz, em meio a um ‘porra’ e outro, que ninguém mais do que ele tem compromissos com a democracia. E que graças a essa qualidade extraordinária, não há inquérito que vá incomodar sua família ou seus amigos. “Chega, porra, basta!”
Ele vai proteger, ao lado dos seus zeros, a única mídia que o apóia, segundo ele. Bem, sejamos justos. Ao menos isso ele já percebeu…
Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, na Veja, em 29/5/2020.