Uma leitura apressada pode nos induzir ao erro de considerar a nomeação do novo ministro da Educação, o economista Abraham Weintraub, como uma troca de seis por meia dúzia. Se o seu antecessor Ricardo Vélez oscilava entre pragmáticos e ideológicos conforme os ventos sopravam, o novo titular da pasta é um puro-sangue. Ascendeu ao cargo porque o presidente arbitrou a briga visceral no MEC em favor dos ideológicos.
O ministro Weintraub é bem mais do que um Vélez não-caricato. Tem alma olavista e foi bancado pelo que há de mais ideológico no clã dos Bolsonaro, o filho Eduardo. Ao lado do seu irmão, Arthur Weintraub, foi um dos primeiros a embarcar na nau bolsonarista, quando muitos não acreditavam na vitória. Assume o MEC com uma prioridade muito bem definida: levar adiante a guerra cultural contra o marxismo, que na visão do próprio presidente é a mãe de todos os males da Educação.
Se dúvidas ainda havia, o ministro se encarregou de dirimi-las ao dizer que trabalhará conectado “às convicções do governo Bolsonaro, que tem uma ideologia clara”. É também profundamente esclarecedor o vídeo da palestra dos irmãos Abraham e Arthur Weintraub na Cúpula Conservadora das Américas, realizada em dezembro do ano passado, na qual o hoje ministro diz que é preciso vencer o marxismo cultural a partir dos ensinamentos de Olavo de Carvalho, levando a guerra às universidades.
Durante a palestra, seu irmão cospe toda vez que fala a palavra USP, num desrespeito àquela que é considerada internacionalmente como a melhor instituição do ensino superior do país.
O problema do MEC deixa de ser a falta de um norte e passa ser a existência de um eixo que aprofundará o desastre educacional. As universidades serão tratadas como bunkers da esquerda, inteiramente contaminados pelo “vírus do comunismo”, para usar uma expressão do novo ministro. Os professores, em vez de parceiros, serão estigmatizados sob a suspeita de serem agentes propagadores do “gramscismo cultural”.
Com isso, há o risco de o ensino básico ficar em segundo plano, pois a missão recebida pelo novo ministro, diretamente do presidente, foi a de dobrar a aposta no enfrentamento dos “problemas morais e ideológicos da Educação”. No radar da guerra ideológica entram a Base Nacional Curricular Comum, que pode passar. A fazer parte da nova redefinição para adaptá-la à “ideologia clara” do governo, e o Conselho Nacional de Educação, este sob a suspeita de ser um antro do marxismo cultural. Na mesma mira estarão os livros didáticos e a prova do Enem, objetos de críticas constantes do núcleo duro do bolsonarismo.
Bolsonaro desequilibrou a balança em favor dos ideológicos, impondo a mais drástica derrota do grupo dos militares neste início de governo. Se a correlação de forças permitir eles serão expurgados do MEC, inclusive o secretário-executivo, o tenente-brigadeiro Ricardo Machado Vieira. Se satisfaz à sua ala anti-establishment, capitaneada pelo triunvirato Olavo de Carvalho, Filipe Martins e Eduardo Bolsonaro, o presidente cria novos contenciosos, compra briga com quem não devia. Espanta possíveis aliados que poderiam vitaminar sua base aliada no Congresso, mas não o fazem por aversão à agenda ideológica.
A opção pela guerra cultural é uma resposta enviesada e equivocada aos exageros cometidos nos governos lulopetistas. O fato é que a alternativa ao direcionamento de esquerda não deveria ser o “direita volver”.
Ambos são nefastos à Educação. E suas vítimas serão milhões de alunos espalhados Brasil afora.
Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, na Veja, em 10/4/2019.