O Novo Governo mofou. E é um mofo grudento, mal cheiroso, o tipo de bolor difícil de erradicar.
Vivemos num país ensolarado e dizem as donas de casa de antigamente que a luz do sol é a grande inimiga do mofo. Nosso sol é forte e dourado. Se essa lição fosse verdadeira, no Novo Governo o mofo não deveria prosperar. Mas prosperou.
Fiquei intrigada e fui pesquisar. Acho que matei a charada.
O Novo Governo começou em 1º de janeiro de 2019. Em 1º de maio, Dia do Trabalho, estaríamos comemorando quatro meses de trabalho se tivesse havido trabalho. Houve muito furdunço, muito salseiro, muita fofoca e muita intriga, mas trabalho… onde? quando? feito por quem?
Quem votou em Jair Bolsonaro votou acreditando que votava num militar que saiu das fileiras como capitão e de lá sentou-se numa das cadeiras do Congresso Nacional, lá bem no fundo do plenário, onde permaneceu apagadinho durante sete mandatos e nove partidos e conseguiu sair sem deixar marca alguma. Talvez seja o recorde do Nada, mas não posso garantir.
O que posso garantir é que os eleitores dos Bolsonaros foram muito bem embrulhados. Explico: eles votaram num homem que passara pelo Exército e pelo nosso Congresso. Que se casara três vezes. Que teve quatro filhos homens e uma menininha. Que afirma ser católico apostólico romano mas frequentou a Igreja Batista por dez anos, que foi batizado no Rio Jordão e teve seu casamento com sua terceira mulher celebrado pelo pastor Silas Malafaia. Sua mulher e seus filhos são evangélicos. Quer dizer, experiências não lhe faltaram…
Quais os planos desse homem para o Brasil? Alguém sabe? Não creio. Talvez seu eleitor achasse que sabia alguns, tipo Armas Para Todos, Estradas Livres de quebra-molas, Ruas Livres de Pardais, Escolas Sem Partido, Abaixo o Marxismo Cultural (seja lá o que isso signifique)…
Agora, muito recentemente, o capitão que diz não ter nenhum preconceito contra LGBTs pronunciou a seguinte pérola: “Quem quiser vir aqui fazer sexo com uma mulher, fique à vontade. Agora, não pode ficar conhecido como paraíso do mundo gay”. Como disse muito sabiamente Paulo Coelho, é preciso deixar bem claro que as mulheres brasileiras não são uma commodity para o Bolsonaro oferecer assim sem mais aquela…
Pois esse embrulho muito bem feito e luxuosamente amarradinho não é da autoria do capitão. Segundo ele mesmo afirma e sempre que pode confirma, ele ocupa o cargo que ocupa graças ao seu garoto Carlos e seus irmãos. Quer dizer, os bolsonaristas votaram no Zezinho, no Huguinho e no Luizinho. Nele Jair, não. Nos seus três Zeros. Ele é só um Zero à esquerda…
O capitão faz questão de dizer que não se vê como de direita. Insiste em afirmar que seu governo é o Novo, aquele que não se deixará vender, nem comprará ninguém. O governo que não será, como os demais, de coalizão. Tudo Novo. Brilhando de Novo.
Apesar do bolor.
Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, na Veja, em 26/4/2019.