Bret Weinstein tem a cara porreira e barbuda de esquerda que a esquerda tinha quando eu era de esquerda. Sejamos claros, Bret, professor de biologia na universidade americana de Evergreen, é de esquerda. Apoiou Bernie Sanders, fez músculo pelos ocupas de Wall Street. Fê-lo em nome da razão e da justiça social. Olha-se para a cara de Bret e apetece ir beber copos com ele.
E eis o que devo dizer, o reitor de Evergreen, George Bridges, precipitou na universidade uma radicalização que poria os nervos em brasa até ao nosso saudoso MRPP. Os estudantes radicais abriram as pastas de ódio, com os translúcidos papéis de racismo e género, e assaltaram o campus.
Podia ser uma lenda, fake news ou outra forma de canalhice reaccionária. Não é: há vídeos de tudo. Num exercício de auto-mortificação que envergonharia penitentes monges medievais, os professores passaram a apresentar-se aos alunos declinando a vergonhosa raça, origem e privilégios, esses cilícios que vêm colados à identidade. E dou exemplos reais: “Eu tenho uma data de altos privilégios, os maiores dos quais, que influenciam o meu ensino, são o ser branca e ser cisgénero”; “Sou mulher, cisgénero, hétero, sou imigrante e ter recebido o visto de residência dá-me muitos privilégios”; “Sou branca, cisgénero, lésbica, a primeira pessoa de família a fazer estudos, de classe média, não sou deficiente, e sou gorda.”
Não julguem que me esqueci da cara barbuda e porreira de Bret Weinstein. Numa universidade dominada por jovens alunos radicais, que hasteiam incendiárias bandeiras de ultra-defesa das minorias rácicas ou de género, Bret disse um dia que não! Bang, bang, foi a morte do artista.
A universidade tinha um chamado “Dia de Ausência”. Nesse dia, por escolha dos próprios, estudantes e professores negros não vinham, demonstrando, assim, a falta que faziam à diversidade da escola. Mas, em 2017, os radicais decretaram que o “Dia de Ausência” fosse ao contrário e que os brancos fossem obrigados a não ir à escola. Salto de fé, passou-se de uma escolha a uma imposição. Bret disse que não e foi dar aulas. Cercaram-no, impediram-no de entrar no edifício e a segurança da escola não se responsabilizou pela sua segurança. Quis debater com os radicais e invocou a razão. Disseram-lhe que a razão e a lógica são instrumentos de privilégio para perpetuar o pensamento opressor branco. Deu a aula ao ar livre.
E se a sua vida se transformou num inferno, mais o ficou quando o reitor, que num exercício de auto-sevícia, vê em si mesmo um fundo de supremacista branco, apoiou os alunos, negando o direito de opinião ao seu privilegiado professor de biologia. Expulsou-o de Evergreen.
O vídeo de uma reunião dos alunos com o reitor mostra o bando de radicais a humilhá-lo, proibindo-o de mexer mãos e braços enquanto lhes dirige a palavra: é ameaçador, dizem, rindo-se como uns alarves. E o penitente reitor, na sua missão de expiação dos privilégios, submete-se com a resignação do cordeiro que está a lavar os pecados do mundo.
A escola, num exercício de auto-culpabilização, estende o tapete à auto-censura, trocando a sua missão, a gloriosa caminhada pela verdade e conhecimento, por uma dantesca ideia de justiça social. Entregues ao pior de si mesmo, os alunos radicais soltam o Pol-Pot que há neles, numa ululante e desumanizada entrega ao ódio e ao sadismo, humilhando até à violência professores. Vejam os vídeos e não me digam que é só caricato: isto é perigoso. O que está às escâncaras em Evergreen, está em surdina no mundo. Aqui também.
(No alto está a primeira parte do documentário. Parte 2 e 3 estão também livres online.)
Da Página Negra, texto publicado na coluna “Vidas de Perigo, Vidas sem Castigo”, no Jornal de Negócios.
Manuel S. Fonseca escreve de acordo com a velha ortografia.