Elementar, meu caro Washington!

Sempre fui aficionada por histórias policiais, em especial as criadas pela imbatível Agatha Christie e pelo genial Georges Simenon. Agatha nos presenteou com Hercule Poirot e com Miss Marple e Simenon, com o comissário Maigret. E todos esses personagens deixaram lições e fizeram brotar uma semente de curiosidade em quem acompanha suas trajetórias.
Com eles, aprendi que uma cena ou uma foto publicada sempre revela algo mais do que aquilo que estamos vendo.
Baseada nisso, quando vi aquela foto da Dilma passando de bicicleta em frente a um Lava Jato lá em Brasília, pouco antes do seu impeachment, me ocorreu que a imagem queria dizer muito mais do que uma mulher fazendo exercícios matinais, e que não foi mero acaso ela ter sido veiculada em todos os jornais do país. É possível que um publicitário, a pedido da “vítima”, tenha criado esse clima para tentar ludibriar a população que ouvia falar sobre as pedaladas da presidenta sem entender muito o que isso significava. Afinal, que mal tinha a Dilma pedalar sua bicicletinha bem em frente a um Lava Jato?, perguntavam os menos informados.

Sobre a foto do Eduardo Bolsonaro com uma arma na cintura ao lado do pai no hospital, tentei imaginar como ela seria interpretada por cada um desses detetives saídos dos livros.

O investigador belga Hercule Poirot, por ser muito observador, metódico e detalhista, provavelmente encararia essa pose de Eduardo com a arma à mostra como uma ameaça a quem estivesse ameaçando sua família. Poirot iria investigar quem estaria pondo em risco a vida do presidente, mesmo com ele internado em local considerado seguro. Iria procurar alguém que tivesse comparecido ao mesmo clube de tiros frequentado pelos irmãos Carlos e Eduardo Bolsonaro, e que realmente tivesse a intenção de pôr em prática o que aprendeu. (Até hoje não entendi aquela história do Adélio Bispo ter feito um curso de tiro se pretendia usar uma faca de cozinha no atentado.)

Miss Marple, aquela senhorinha solteira que se dedicava ao jardim de sua casa e à sua cesta de costuras, não podia saber de algum caso intrigante que corria a bisbilhotar. E essa foto que gerou tantos comentários certamente seria um alvo interessante para ela, já que o protagonista poderá ocupar um importante cargo diplomático nos Estados Unidos. Com sua inteligência e perspicácia, Miss Marple possivelmente interpretaria o ato também como uma ameaça, mas desta vez aos que forem contrários à nomeação dele. Alguns classificam a indicação como nepotismo mas ele se diz muito preparado para o cargo porque já fritou hambúrguer naquele país. (Sorte não ter sido indicado para a embaixada em Londres. Os ingleses não iriam gostar de quem chama o mais importante primeiro-ministro de todos os tempos de WILSON Churchill).

Já o Comissário Magret, um grande decifrador de olhares e de mentes humanas, e acostumado a lidar com o bas fond parisiense, faria uma interpretação mais freudiana da foto. Iria investigar se a teoria levantada pelos adversários políticos do filho do presidente teria algum fundamento. Se seria verdade que esse nosso David de Michelangelo de fato escondia um “pequeno” segredo sob sua roupa íntima. Nesse caso não haveria crime e ele encerraria o caso como sendo uma mera demonstração de empoderamento (odeio essa palavra) masculino.

E o que estaria pensando o povo sobre isso? Pelo que ouvi, os que não concordam com o hábito de cidadãos saírem por aí carregando uma arma na cintura – muito menos dentro de um hospital – diriam que foi só uma mera demonstração de imbecilidade mesmo!

Esta crônica foi originalmente publicada em O Boletim, em 13/9/2019. 

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