“Continue, Irmã Dulce, continue”

Em 1980, o Papa João Paulo II em visita ao Brasil, durante cerimônia religiosa em Salvador, convidou Irmã Dulce a subir ao altar e lhe ofereceu um rosário, dizendo: “Continue, Irmã Dulce, continue”.

Hoje, passados 39 anos, nós brasileiros repetimos o pedido de João Paulo II, pois nossos pobres e aflitos precisam muito da proteção e do amor dessa freirinha, pequenina em altura, mas um gigante moral.

Canonizada pelo Papa Francisco neste ano da graça de 2019 com o nome de Santa Dulce dos Pobres, a freira baiana que desde criança se dedicava a ajudar e atender aos desvalidos, será celebrada todos os dias 13 de outubro, para a glória de Deus e para o bem deste Brasil tão necessitado de mais amor.

Sim, de amor, pois como sempre disse Santa Dulce dos Pobres, “Miséria é a falta de amor entre os homens”. E como somos um país onde a miséria abunda, precisamos de muito amor entre os homens para minorar seu sofrimento e aliviar sua fome. E rezaremos “Continue, Irmã Dulce, continue” e ela, sentada ao lado direito de Deus Pai, continuará a proteger o Brasil.

Infelizmente é caro viajar para Roma e passar um ou dois dias no Vaticano; se tal não fosse, aquele pequeno país seria inundado por brasileiros, fiéis em busca das bênçãos do Papa e de poder testemunhar a glória de nossa santa. Como isso não é possível, contamos com os brasileiros que podem viajar para que nos representem. E daqui pensaremos juntos: “Salve Santa Dulce dos Pobres!”.

O Brasil é um país laico. O que isso quer dizer? Que qualquer que seja a sua Fé, o laicismo não é contra o pensamento religioso de ninguém, é a proteção de todos. Um governo laico não impõe nem discrimina nenhuma religião. Aceita e respeita todas.

Admiro o Brasil por cultivar tão fielmente o laicismo. É uma de nossas maiores qualidades. Faz bem saber que nossa convicção mais íntima, como a Fé, é primordial e que a ninguém deve ser dado o direito de romper essa intimidade.

Muçulmanos, cristãos, judeus, ateus, comunistas, espíritas, evangélicos, umbandistas, somos todos seres irmãos. Devemos condenar o pensamento que leva o Homem a dizer “se você não pensa como eu é porque está contra mim”. É um pensamento tão raso, tão mesquinho, tão estreito, que eu custo a crer que algum brasileiro pense assim.

Mas, como todos sabemos, estou enganada. Há brasileiros que pensam assim, como demonstrado pelos que poderiam estar no Vaticano no domingo 13 de outubro, mas que não irão pelos motivos mais minúsculos. Envergonham o Brasil ao não homenagear Santa Dulce dos Pobres. Mas ela há de perdoá-los. Seu coração era imenso!

Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, na Veja, em 11/10/2019. 

Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *