Em uma viagem de metrô, em São Paulo, podem ocorrer-nos idéias divertidas. Na última que fiz, em uma manhã cálida, o trem com pouca lotação, oferecendo um cenário agradável nos trechos a céu aberto, notei um fato comum entre os passageiros que viajavam em pé, no espaço onde estão as portas. O rosto da maioria deles constituía-se de uma boca, um nariz, dois olhos, dois ouvidos e dois fones de ouvido.
Parecia claro que por preferência, ou pela previsível falta de lugares para sentar, vinham preparados para viajar em pé. Dois deles usavam fones de ouvido grandes, que cobriam as orelhas. Eram os modelos sem fio. Os outros, fones pequenos, de colocar no ouvido, com fio a vista.
Sentado bem próximo, podia observar seus rostos. Pelo que expressavam, concluí que ouviam música. Apenas o que tinha um fone sem fio maior me sugeriu, por sua expressão mais fechada, e o vestir mais sóbrio, que estivesse ouvindo o noticiário. Diante desses fatos, o eventual (e paciente) leitor destas linhas poderá se perguntar: e daí?
Nada especial, apenas que me ajudaram a matar o tempo na viagem, e escrever um textinho para o editor Sérgio Vaz, por alcunha Servaz. Como? Celular no metrô, eu? Bem, confesso que para viagens longas, quando vou da estação Tucuruvi para a Jabaquara (pegar meu ônibus com destino ao litoral), também me precavenho. Dois jornais digitais e um e-book.
E agora… Ganhei da minha filha fones de ouvido sem fio, aqueles grandões, que tampam a orelha. Estou pensando em aderir aos escutadores do metrô, sem pejo (pejo?!). E sentado. Coloco meu fone e sigo ao embalo do trem e dos grandes lançamentos… da década de 1960. Oh, yeah!, posso vibrar, no meu banco de idoso.
Outubro de 2019