Aí Sim!

“Não se assustem se alguém pedir o AI-5 em reação à quebradeira na rua”, disse nosso ministro da Economia esta semana lá nos esteites, se referindo ao discurso de Lula convocando o povo para as ruas.

Pequepê, seu Paulo Guedes! Isso é coisa que se fale? Viu só o resultado da tua boquirrotice?

Ajudou o dólar, que já estava nas alturas por causa de suas declarações anteriores, a disparar que nem atleta queniano e o clima de incerteza só de pensar na possibilidade de uma ditadura voltou a atormentar os corações e mentes dos que querem e lutam por uma democracia plena.

Mas não durou muito. Logo em seguida, Guedes percebeu a cagada e, praticamente aos berros, puto com os jornalistas que tocaram no assunto, disse que um ato institucional que fecha o Congresso não combina com o regime democrático, que ele é contra, e que foi mal interpretado, que entenderam errado. Só faltou dizer que não falou AI-5, que falou AÍ SIM, tipo se tiver quebra-quebra, aí sim a gente age.

Mas, como diria Dilma, “quando a pasta de dente sai de dentro do dentifrício, ela dificilmente volta pra dentro do dentifrício”, que, traduzindo para o português, quer dizer que as palavras ditas não voltam à boca, o que significa dizer que Paulo Guedes deveria estar mais preocupado com o crescimento econômico que ele prometeu bombar em seis meses do que com as falas de um, por enquanto, ex-presidiário.

E depois, caro ministro, se as manifestações convocadas por Lula se transformarem em quebra-quebra, tem a polícia pra tomar providências. Deixa o AI-5 morto, enterrado para todo o sempre, amém!

Parece que nesse governo já é de praxe dizer as coisas e depois desdizer. Isso tem ocorrido com frequência tanto nas falas dos ministros quanto nas falas do próprio Bolsonaro. Toda vez que vejo o porta-voz, general Rêgo Barros atrás do presidente nas entrevistas, ele está com aquela cara de “ai meu Jesus Cristinho, faça com que ele segure a língua”.

E, talvez para sair dessa rotina, esta semana a ministra da goiabeira Damares Alves, resolveu “causar” e surpreendeu a todos.

Convocou uma coletiva de imprensa no Palácio do Planalto para o lançamento da campanha “quando uma mulher perde a voz, todas perdem”.

Até aí tudo bem! É normal um ministro dar explicações aos jornalistas de como será uma campanha que está sendo lançada. Essa, especificamente, é direcionada às mulheres que sofrem com maus tratos dos homens e que se tornam, às vezes, vítimas de feminicídio. (“Gosto” dessa palavra quase tanto quanto da palavra empoderamento.)

O estranho é que ela entrou muda e saiu calada. Não deu um pio, nem pra dizer que menino veste azul e menina veste Prada.

Segundo sua assessoria de imprensa, a atitude foi intencional: ela quis mostrar “como é difícil uma mulher ficar em silêncio”.

Será que foi isso mesmo?

Eu tenho cá pra mim que do outro lado do seu ponto no ouvido estava o Nazareno!

(Pra quem não se lembra, Nazareno era um personagem machista do Chico Anysio, casado com uma mulher pouco dotada de beleza física, que nem podia abrir a boca pois ele já vinha com um calaaaaada!)

Esta crônica foi originalmente publicada em O Boletim, em 29/11/2019. 

 

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