Tenho achado difícil tirar conclusões das mensagens entre o ex-juiz e atual ministro da Justiça Sergio Moro e o procurador Deltan Dallagnol. Surrupiadas por peritos hackeadores dos celulares do ministro, do procurador e de outras autoridades envolvidas com a operação Lava-Jato, são mensagens que não permitem conclusões fáceis, já que os envolvidos não negam nem admitem sua veracidade, alegando que as provas, se houvesse, já teriam sido desarquivadas há tempos.
Sergio Moro, não há dúvidas, demoliu o estado corrupto que permeava por todo o Brasil e instilou no coração dos brasileiros o horror à corrupção que nos priva de Educação, Saúde, Segurança.
Mas, ao se despir da toga, passou por uma transformação que incomoda assistir. Ao vê-lo de terno e gravata se despir do paletó para vestir a camiseta do Flamengo jogada por um torcedor, fiquei muito impressionada. Mal impressionada, digo com sinceridade.
O capitão, depois de ficar caladinho sobre esse assunto por mais de 48 horas, anteontem declarou que o ministro Moro merece o apoio de seu governo já que tem todo o povo ao seu lado, usando como prova de seu argumento os aplausos recebidos no estádio Mané Garrincha o que, segundo ele, não acontecia desde que o presidente Médici frequentava o Maracanã.
Menos, capitão, por favor, menos. Vá com calma. Seu governo já liquefez três ministros. Qualquer descuido pode ser fatal. E uma pequena observação: Médici era aplaudido sim, mas por um Maracanã lotado, transbordando de torcedores da geral às tribunas. Não era uma platéia minguada como a do Mané Garrincha na quarta-feira à noite.
Todos sabemos que o presidente Bolsonaro é contra o ensino da Filosofia nas escolas. Não é necessário muito esforço para compreender o motivo dessa alergia à Filosofia. Basta ler este pensamento de Emanuel Kant, o grande filósofo alemão considerado o mais importante da era moderna: “Na esfera legal um homem é culpado quando viola o direito dos outros. No plano da ética basta que ele cogite violar para estabelecer sua culpa.”
Que tal como pensamento nas noites de insônia, capitão?
Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, na Veja, em 14/6/2019.