Ao olhar a foto do presidente eleito Jair Bolsonaro conversando com seu vice, o general Hamilton Mourão, lembrei-me dessa frase do Millôr. A imagem é ótima: um retrato dos dois eleitos pelo povo cochichando sobre o que fazer a seguir, foi o que imaginei… Mas explicar isso sem palavras…
Simpatizo com o general Mourão desde que soube que ele não quer deixar de viver uma vida comum, ir ao mercado, ir à padaria, ir ao cinema. Por enquanto, nesta longa transição, está dando, mas depois de janeiro, será que vai dar? Noutro dia ele foi jantar com a mulher e um casal amigo no Esch Café, no Leblon. (Palmas pra ele, pelo bom gosto e pela animação!) Mas, de imediato, pensei: no ano que vem, isso será possível? Torço para que ele consiga, mas tenho cá minhas dúvidas.
Sabem que fiquei com pena do general Mourão? Será que ele já percebeu a enrascada em que se meteu?
O povo ávido por soluções para todos os seus problemas, o que acreditam virá com os eleitos como que por mágica. É essa a esperança do eleitor: “votei no que acho melhor, e sei que ele vai acertar o passo do país”. Terão paciência para esperar o longo e tenebroso inverno que nos distancia da Plenitude?
O Poder é tentador, mas tirar o Brasil da beira do poço onde está e encaminhá-lo para o caminho da Paz e da Prosperidade, será que o Poder recebido da eleição será suficiente? E será que o Poder será prazeroso?
O Brasil está muito mal. Mais uma vez recorro a uma imagem para reforçar minhas palavras: a foto nos jornais desta semana da miséria em que vivem muitos de nossos compatriotas. Difícil olhar aquelas fotos e não chorar. Mais difícil ainda sentar para o café da manhã sem ouvir o ronco das barrigas vazias.
Somos um país grande por fora e ínfimo por dentro. Na verdade, um paiseco que se quer gigante mas cuja alma é muito pequenina.
Outra imagem que bate fundo em meu coração: os 42 anos de história no banco da frente na Catedral de Washington prestando homenagem ao falecido presidente George Herbert Walker Bush. Percam um minuto e fechem os olhos imaginando um banco na Catedral de Brasília com 42 anos de história do Brasil. E aí? Conseguiram “ver” a cena?
Confesso que estou com muito medo do que virá por aí. Sou, por natureza, otimista. Mas, desta vez, não estou conseguindo fazer valer meu otimismo. Escrevo enquanto a Globo News retransmite a palavra da nova ministra dos Direitos Humanos. E só me vem à mente o seguinte pensamento: “O que é isso?”.
Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, na Veja, em 7/12/2018.