Acabo de ver a lista, que já vai longa, dos prováveis candidatos à Presidência da República do Brasil. Fiquei assustada. Passamos por tudo que passamos nestes últimos 15 anos e continua tudo na mesma? Não aprendemos nada? Caramba! Assim não é possível…
O que me veio à mente, de imediato, foi um artigo que aqui publiquei, há quase dez anos, em junho de 2008. Sei bem que citar a si mesmo é ridículo, mas não resisti, pois acho, sinceramente, que meu texto está mais atual do que nunca. Ei-lo, leitor, para seu julgamento:
“Só a audácia, fruto de profunda desesperança, poderia dar-me coragem para brincar com o título do famoso ensaio satírico de nosso maior escritor, Machado de Assis. Em “Queda que as mulheres têm para os tolos”, Machado descreve a acentuada queda que as mulheres têm pelos biltres, pelos estroinas, pelos frívolos e janotas, desprezando os homens de espírito, sérios, corretos, que preferem o silêncio às palavras fáceis da conquista apressada.
Ao longo do texto, Machado vai deixando por conta do leitor a conclusão: as mulheres hão de sempre preferir os tolos, ou amadurecidas por fracassos sentimentais, acabarão por preferir o homem de espírito ao sucesso do salão?
Tenho cá minha conclusão que, evidente, não interessa a ninguém, a não ser a mim mesma. O que interessa aos leitores de hoje em dia, é saber qual o motivo que leva os eleitores a preferirem os tolos. Parece uma das 7 pragas do Egito: “E Neste Início do Novo Século, Só Serão Eleitos Os Tolos”.
Os tolos são os grandes vitoriosos, de norte a sul, de leste a oeste. Prestar atenção no noticiário chega a ser um massacre. Não há um dia sem uma péssima notícia, um descalabro financeiro, uma confissão, uma acusação, um despautério. Os políticos que ocupam cargos em áreas sensíveis da vida nacional, ou estão lá porque foram eleitos, ou estão lá porque foram escolhidos pelos eleitos. Ninguém brota em cargos de mando nos três poderes.
Mais simpáticos, riso pronto, palavra fácil; comunicativos, acessíveis, convívio agradável, os tolos triunfam. Não dizem nada que aborreça o eleitor e prometem o paraíso aqui na terra e para logo. Ao eleitorado, oferecem a mão amiga e o bolso farto.
Interagem com a multidão como se dela fizessem parte, quando bem sabemos que a diferença entre o palanque e a plateia é maior que os oceanos que banham nosso planeta.
Estudando a obra de Machado, estou certa que ele não se ofenderia com minha audácia. Até ouso dizer que concordaria comigo: é maior a queda que os eleitores de hoje têm para os tolos, do que a queda que as mulheres de seu tempo tinham para com os sempiternos parvos.
Chegará a vez do espírito de escol? Você, eleitor, conclui”.
Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, na Veja, em 26/1/2018.