A dor das famílias e dos amigos de Marielle e Andersosn é, sabemos, todos, brutal. Perder um ente querido é dor violenta. Não há palavras que consolem, nem pensamentos que ajudem a suportar a morte de pais, filhos, parentes, amigos. Não resta dúvida que a dor das famílias é o aspecto mais doloroso dessa tragédia que abriu as veias do Rio.
O Brasil inteiro saiu às ruas demonstrando sua dor e desejando paz e força às famílias de Marielle e Anderson. Não seriam as minhas pobres palavras que acrescentariam algo para apaziguar esses corações em pranto.
O que me traz aqui é o medo. Que intervenção militar é essa que permite que sete balas de uma arma de calibre 9 milímetros, de uso exclusivo das Forças Armadas, executem, em pleno centro do Rio, numa noite clara de verão, uma vereadora e seu motorista? Justo uma moça que foi eleita com muitos votos por ser pessoa que denunciava os abusos da Policia Militar e de militantes que violentavam os direitos dos moradores das favelas? Cujo carro, um carrinho branco bem simples, os assassinos sabiam muito bem onde encontrar?
Estamos à véspera de eleições. É vital saber, ouvir de viva voz, pela TV ou em palanques, o que pensam sobre essa tragédia os candidatos a todos os cargos antes de escolher em quem vamos votar. Mas essas palavras não podem tardar. Aliás, já deviam estar no ar. Os que se guardam num silêncio covarde, esses não merecem nossa escolha.
Exato um mês depois de instalada, a intervenção militar nas polícias fluminenses, que imaginava ter tempo para agir, vê-se encostada na parede. “A ação federal foi desafiada pelo assassinato de Marielle”, diz a cientista social Silvia Ramos, especialista em segurança pública.
Mirelle era forte, brava, corajosa. Lutava por aquilo em que acreditava. Anderson era um rapaz jovem, com um filho pequenino e que servia à vereadora como um bico para aumentar a renda mensal que sustentava sua família. Dois brasileiros que honravam o Brasil.
O que é imprescindível agora é que a Polícia Federal descubra quem foi o desgraçado que executou os dois e que a Justiça, ágil, o trancafie para sempre.
Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, na Veja, em 16/3/2018.