O país vai ter saudade do governo Temer (2)

A coluna de Míriam Leitão em O Globo de hoje é daqueles textos que dá vontade de a gente enquadrar e pendurar na parede. Ou, como é o meu caso, de republicar no site, e propagandear, pedir para que as pessoas leiam, copiem, guardem, não se esqueçam.

Este é um país de memória curta, curtíssima – e os populistas, demagogos e charlatães se aproveitam disso para inventar lorotas, mentiras, “narrativas”, como virou moda dizer, e, de tanto repeti-las, vê-las transformadas em verdade para muita gente mal informada.

O populista demagogo charlatão mór, o que está preso em Curitiba, e seu partido são experts nesse jogo que Joseph Goebbels usou muito na Alemanha nazista, a repetição de mentiras até que elas adquirem ares de verdade.

O lulo-petismo fez muita gente acreditar que foi o governo do morubixaba de Garanhuns que acabou com a grande inflação que vinha dos tempos de Fernando Henrique Cardoso. O lulo-petismo e especificamente o Poste 2 do Morubixaba já andaram dizendo (ou no mínimo dando a entender) que o Poste 1 deixou o país na maior das maravilhas, e foi o governo do golpista Temer que afundou a economia na maior recessão da História.

Por causa disso, por causa desse tipo de coisa, é que dá vontade de enquadrar textos como o desta sexta-feira, 26/10, de Míriam Leitão, uma das melhores jornalistas de economia do país.

O texto de Miriam Leitão mostra, com a limpidez de água da fonte, que a equipe econômica do governo Michel Temer tirou o Brasil do fundo do fundo do buraco em que os governos lulo-petistas o enfiaram.

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Foi uma semana boa, rica, nesse ponto de botar os pingos nos is  a respeito do que significou o governo Temer para a economia brasileira.

Na quarta-feira, 24/10, O Globo publicou um editorial com o título “Economia projeta uma perspectiva mais favorável ao novo governo”.No dia anterior, 23/10, O Estado de S. Paulo havia publicado o editorial “Devagar, mas avançando”.

Os dois mostravam, como os títulos indicam, a melhora da economia brasileira nos últimos meses. Lá pelas tantas, o editorial do Globo afirmava: “Há sinais de que, mesmo débil, a recuperação econômica se mantém. Cabe mencionar aqui como responsável por isso o melhor do governo Temer, que foi conter a debacle, com uma administração eficiente no Banco Central, capaz de reverter uma inflação ascendente e, com isso, permitir o corte da taxa básica de juros (Selic) até seu ponto histórico mais baixo, os atuais 6,5%.”

Na segunda-feira, 22/10, já haviam sido divulgados os números do Caged, o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados do Ministério do Trabalho: o mercado de trabalho brasileiro criou 137.336 empregos com carteira assinada em setembro. Foi o melhor resultado para o mês desde setembro de 2013, quando foram gerados 211.068 empregos formais.

No acumulado de janeiro a setembro, foram criados 719 mil empregos formais.

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Juntei os dois editoriais e esses números positivos sobre emprego com carteira assinada num post aqui, com o título de “O país vai ter saudade do governo Temer”.

Apesar de o texto ser apenas e tão somente uma consolidação de dois editoriais e os dados de uma notícia, o título “O país vai ter saudade do governo Temer” me pareceu corajoso. Falar bem do governo Temer é mais ou menos como gritar “Timão, Timão!” no meio da torcida do Palmeiras. Ou “Pega ladrão”, ou “Lula está preso, babaca!”, num comício do PT.

Não pretendia vir com um novo “O país vai ter saudade do governo Temer” – até porque faltam poucas horas para o domingo do segundo turno, e eu gostaria de escrever um último capítulo da minha “Crônica da eleição do horror”.

Mas o artigo de Míriam Leitão me obriga a fazer isso.

Aí vai.

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Feitos da equipe do tempo difícil

Míriam Leitão, O Globo, 26/10/2018.

Esta foi uma grande equipe econômica que trabalhou em condições adversas. O resultado fala por si. A inflação caiu e chega ao fim do período de tensão política no centro da meta. O déficit foi reduzido ainda que o rombo deixado pelo PT não tenha sido vencido. A Caixa solucionou seu enorme desequilíbrio através de uma revolução silenciosa. A Petrobras voltou ao lucro e construiu mecanismos de proteção contra a corrupção. O Banco Central tomou decisões com autonomia e levou as taxas de juros ao mais baixo ponto desde o Plano Real.

O candidato do PT diz que não vai mantê-la caso ganhe porque ela é a equipe “que não pensa em geração de emprego, só pensa em lucro pra banqueiro”. Falso e demagógico. A escalada do desemprego começou no governo do PT e os juros pagos pelo Tesouro eram mais altos no governo Dilma. A equipe do candidato do PSL diz que manterá quem se manifestar que quer ficar. Faz, portanto, a proposta com a arrogância dos vencedores de véspera, como se fosse uma concessão, e o faz por oportunismo porque sabe que eles têm boa reputação.

O mérito inicial cabe ao ex-ministro Henrique Meirelles que foi excelente formador de equipe. O ministro Eduardo Guardia agiu discretamente junto com o competente Mansueto Almeida oferecendo aos economistas dos candidatos que os procuraram as informações necessárias sobre a situação fiscal e os desafios econômicos. Jamais polemizaram com as propostas descabidas que surgiram. De forma republicana têm trabalhado pela transição, seguindo o modelo que Guardia aprendeu com seu ex-chefe Pedro Malan na passagem do governo tucano para o PT em 2002.

Ana Paula Vescovi, figura de rara competência, brilhou neste período. Primeiro como secretária do Tesouro e depois como secretária executiva. Discreta e eficiente, ela cumpriu missões quase impossíveis. Refez a credibilidade do Tesouro abalada desde a maluca contabilidade criativa de Arno Augustin e Guido Mantega. Como presidente do conselho de administração da Caixa Econômica solucionou, sem dinheiro do contribuinte, o enorme rombo deixado pela desastrosa condução anterior. Na gestão petista foi feito o ruinoso negócio da compra do banco quebrado do Silvio Santos. A Caixa foi usada para dar empréstimos a empresários como Joesley Batista. O FI-FGTS gerou escândalos com seus créditos negociados por indicados de Eduardo Cunha no governo de Dilma Rousseff e que estão sob investigação do Ministério Público nas operações Greenfield, Sepsis e Cui Bono. Vescovi trabalhou em estreito contato com o procurador da Fazenda Claudio Xavier.

Ela venceu a luta contra as perigosas indicações políticas e recrutou, através de head hunters, quatro vice-presidentes. Eles seriam nomeados, mas houve pressões da candidatura de Jair Bolsonaro junto com a turma da fisiologia do próprio governo Temer para que se deixasse os cargos vagos. Ontem, ele manteve as indicações, mas se voltar o loteamento político, pode ser o primeiro retrocesso. O trabalho de Ana Paula se completaria com a profissionalização da gestão. Se voltarem as indicações políticas, num possível governo Bolsonaro, será o primeiro sinal de manutenção do fisiologismo. Com o PT, o risco é a pressão do corporativismo.

Na Petrobras foram feitos avanços impressionantes de ajuste das contas, redução da dívida, volta da capacidade de investir, e mudanças na governança para tornar mais difícil novos casos de corrupção.

No Banco Central, Ilan Goldfajn conseguiu com sua atuação autônoma e uma boa diretoria reduzir os juros dos 14,25% deixados por Dilma para 6,5% mantendo a inflação em níveis até abaixo do piso da meta. Mesmo no auge da incerteza política, os juros e a inflação baixos permitiram que a economia não fosse um fator de perturbação da escolha eleitoral.

Marcos Mendes formulou propostas, e reformas microeconômicas foram tocadas. Foi aprovado o teto de gastos que, ao contrário da exploração política feita, não congela as despesas de saúde e educação por 20 anos, mas de fato exige a reforma da Previdência, cuja aprovação foi impedida por uma coalizão da qual fizeram parte o PT e os líderes do bolsonarismo como Onyx Lorenzoni e Major Olímpio.

Essa foi uma equipe que trabalhou sobre uma terra arrasada num governo impopular, que foi enfraquecido por um escândalo de corrupção. Blindou-se, conseguiu avanços importantes e deixa um legado. (Com Alvaro Gribel, de São Paulo)

26/10/2018

Os números mostram um país muito melhor que há 2 anos e meio.

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