Nem sempre a novidade é avanço

No meio da correspondência, entre cartas, informes, contas e anúncios que encontro toda vez que vou olhar minha caixa de correspondência aqui no prédio, veio uma tripa de papel, de mais ou menos 30 cm x 10 cm, que por pouco não rasgo e jogo na lixeira, pensando que fosse apenas um anúncio de delivery de pizzas, o mais comum entre os que encontro na caixinha.

Foi pura sorte meus olhos terem batido na palavra Light. Era, sim, a nova conta da Light em seu novo formato (e nova cor, passou do vermelho para o verde…). Esse papelinho nos é apresentado como mais praticidade, menos papel e maior transparência na leitura do nosso consumo de energia elétrica.

Entro em total desacordo com a Light. Para economizar papel, a Light teve que diminuir o tamanho das letras e números. O que, em vez de facilitar a leitura, faz é dificultar, pelo menos para quem não tem mais, digamos, 40 anos. Para ler a nova conta e seu importantíssimo link que uso para o pagamento on line, tive que me valer dos óculos e de uma lupa!

Foi para o bem do consumidor de energia ou para o bem do bolso da pobre Light? O que é que você acha, leitor?

E quanto aos remédios? Quando a propaganda fala em novos formatos e novas embalagens, já me aproximo com imensa desconfiança. Nos remédios, a nova embalagem quase sempre significa aumento de preço. E o fato de que as caixas, uma vez abertas, não poderão mais ser bem fechadas, pois para abri-las temos que rasgar a tampa, não tem outro jeito. Infelizmente, uso muitos remédios, dos mais variados laboratórios, e uma vez aberta uma caixa de um determinado remédio só o que consigo é encostar a antiga tampa na caixinha. Fechar, nunca mais.

Isso só acontece com os remédios? Não, imagine, também com biscoitos, sucrilhos, farinhas, e muitas outras coisas. Tenho um amigo que sempre disse que o progresso industrial de uma nação pode ser medido pelas embalagens fabricadas no país. Eu achava isso engraçado. Já não acho…

O fato é que ao comparar produtos feitos no exterior aos feitos aqui, mais uma vez confirmo que meu amigo está é muito certo. Tomo como exemplo os discos. As caixas de acrílico dos CDs ingleses, alemães ou americanos, mesmo que abertas e fechadas com muita regularidade, duram muitos anos. Já as nossas, coitadinhas… se você ao abri-las não tiver muito cuidado, logo, logo, as tampas vão desmontar e a caixinha ficará inutilizada. O mesmo com os LPs. Tenho ingleses comprados em Londres na década de 60 do século passado que parece que foram comprados ontem, o que, para quem ama seus discos, é um prazer que os fabricados aqui no Brasil não permitem.

Mas isso são objetos. Vamos torcer para que os eleitos nas eleições de outubro cumpram melhor a propaganda que os acompanha e que, bem acabados e mais resistentes que nossas embalagens, sejam novidades que sirvam ao Brasil durante um bom tempo e, de preferência, que não nos custem muito caro…

Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, na Veja, em 24/8/2018. 

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