É como um conto, uma beleza de conto – curtinho, extremamente enxuto, à la Dalton Trevisan, o vampiro de Curitiba que queria chegar à perfeição de que seus contos não fossem maiores que hai-kais.
Talvez precisasse haver uma explicação, uma contextualização, um intróito dizendo que ele foi escrito no inicinho dos anos 70, aquela época dos hippies, mas também, claro, das pessoas religiosas, catequizadoras.
Bobagem, isso. Ou o conto é bom – e nesse caso a contextualização não é necessária –, ou então não é.
Mesmo assim, insisto na contextualização. O texto foi escrito em inglês, e com rimas – e rimas ricas. Isto que vai aqui é uma tentativa canhestra de contar a história na última flor do Lácio, inculta e bela – sem a beleza do texto original, sem a riqueza das rimas.
É um relato em primeira pessoa, como muitos dos de tantos outros grandes contistas.
Um jovem inexperiente, bem inexperiente – que vai viver a que seria provavelmente a mais maravilhosa experiência de sua juventude.
Lá vai.
***
O casal no quarto ao lado merecia um prêmio. Estão nessa, indo e vindo, a noite inteira, e eu, bom, só estou tentando dormir um pouco, mas essas paredes do motel são baratas demais.
Me chamo Lincoln Duncan, e esta é minha história.
Meu pai era um pescador, minha mãe era uma amiga de pescador. E então, no fim da adolescência, saí de casa e fui tentar a vida na Nova Inglaterra, doce Nova Inglaterra.
Furos na minha auto-confiança, furos nos joelhos da minha calça jeans. Estava sem um centavo no bolso, estava sem absolutamente nada, e gostaria de ter um anel pra poder botar no penhor.
Aí tinha uma moça pregando para um bando de gente, cantando canções de igreja e lendo a Bíblia. Eu disse pra ela que estava perdido, e ela me contou tudo sobre Pentecostes, e eu vi que aquela garota era a estrada para a minha salvação.
Mais tarde, naquele mesmo dia, deslizei pra dentro da barraca dela, com uma lanterna, e meus longos anos de inocência acabaram. Ela me levou para o bosque, dizendo que estava vindo uma coisa boa, e eu fui laçado.
Meu, que noite, que jardim de delícias. Até hoje me lembro bem daqueles momentos = eu tocava meu violão, debaixo das estrelas, agradecendo ao Senhor pelos meus dedos.
***
Ahnnn …
Não term um bilionésimo da beleza do texto original, cheio de belas rimas, e cantado na voz maravilhosa de seu autor, Paul Simon.
“I told her I was lost
And she told me all about the Pentecost”.
Ah, meu! Bob Dylan e Leonard Cohen, tenho absoluta certeza, gostariam de ter escrito esses versos!
***
Eis a íntegra da letra de “Duncan”. A canção saiu no álbum Paul Simon, de 1972 – o primeiro disco solo após a separação dele e de Art Garfunkel.
Duncan
Paul Simon
Couple in the next room bound to win a prize
They’ve been going at it all night long
Well, I’m tryin’ to get some sleep
But these motel walls are cheap
Lincoln Duncan is my name
And here’s my song, here’s my song
My father was a fisherman
My mama was a fisherman’s friend
And I was born in the boredom and the chowder
So when I reached my prime
I left my home in the Maritimes
Headed down the turnpike for New England, sweet New England
Holes in my confidence
Holes in the knees of my jeans
I was left without a penny in my pocket
Ooh-oowee, I was about as destituted as a kid could be
And I wished I wore a ring so I could hock it
I’d like to hock it
A young girl in a parkin’ lot
Was preaching to a crowd
Singing sacred songs and reading from the Bible
Well, I told her I was lost
And she told all about the Pentecost
And I seen that girl as the road to my survival
I know, I know, I know, I know, I know, I know
Just later on the very same night
When I crept to her tent with a flashlight
And my long years of innocence ended
Well, she took me to the woods
Sayin’ “Here comes something, and it feels so good!”
And just like a dog I was befriended, I was befriended
Oh, oh, what a night
Oh, what a garden of delight
Even now that sweet memory lingers
I was playing my guitar
Lyin’ underneath the stars
Just thankin’ the Lord
For my fingers
For my fingers
I know, I know, I know, I know, I know, I know
Agosto de 2018. Ou teria sido julho?