Lá vou chatear as hienas que em pleonástico bando sempre uivam a Hollywood. Tenho de dizer a verdade: é de véu e flor de laranjeira o amor de Hollywood pelo livro.
Quando a cidade era victoriana, o século XIX a encostar a cauda ao fogo do século XX, Los Angeles polia as pestanas nas livrarias concentradas na Rua Seis, espécie de Betesga da Baixa angelina, por onde passava um eléctrico que, se não era, parecia o 28 de Lisboa.
Foi em cima do cadáver dessa Baixa que nasceu e viveu Hollywood. E não se ponha nostálgica a hiena ululante: os livros refloresceram. Nos anos 20, com indomável ardor, Hollywood lia muito mais do que hoje se instagrama, se feicebuca ou se tuíta. Expeditos livreiros irrompiam, nos anos 20, pelo esplendor nascente dos estúdios de cinema. Carregavam malas atravancadas de parágrafos e papel. Vendiam tudo e ponto final, que os produtores, realizadores e argumentistas tinham colossal e histórica fome de tramas. O livreiro ambulante é que nunca se tramava: mesmo que não lhes vendesse livros, a ignaros executivos e a líquido pessoal obtuso encasquetava-lhes alçados álbuns de pornografia ou, nesse tempo de Proibição, uma jusante garrafa de Bourbon.
Vindo ao mundo entre o pasto e as vacas de Matador, pascácia cidade ribatejana do Texas, Stanley Rose foi um desses ungidos livreiros. Da Sátiro, livraria que, com dois sócios, plantou ao lado do Brown Derby, restaurante da mais selecta Holywood, Rose fez uma encantada caverna de Ali-Babá: mundo dourado de histórias, janela escancarada a poetas e artistas de vanguarda, cofre a transbordar de edições raras.