Este alquebrado correspondente de guerra dispensa luxos e só quer um lugar para descansar o esqueleto. Continuaria muito bem onde está, no velho casarão gasto, com árvores grandes que sombreiam o telhado. Mas vem a mulher, e diz: “A casa ficou grande”. “Ora”, replico, me fazendo de desentendido. “Está do mesmo tamanho que nós construímos.”
Não acha graça. Dedicadas mães, que viraram amorosas avós, e viram a prole sair para cuidar de si, sentem espaço sobrando em sua vida e em sua casa. Querem mudar.
O velho urso tem um discurso fixo para incomodar os outros, que é o da tapera. “Para mim, basta uma tapera, com um rede para dormir” (desde que, naturalmente, chegue a eletricidade para o laptop).
Como são as pessoas. Em vez de ver nisso uma atitude de despojamento e nobreza de espírito, se irritam. A família toda se irrita, tive que arquivar a fala.
Sou levado sob coerção conhecer a moradia que vão tentar me impor. Diante da maquete, com a torre grandiosa, jardins e espaços generosos (tudo em escala enganosa), o corretor discursa. Entro com um aparte.
– Para que vou querer quadra de tênis se não jogo?
– Ah, é normal. Muito poucos compradores jogam.
– E eu tenho que pagar uma quadra e a manutenção para um grupinho privilegiado?
Lógica irrefutável, mas o sorriso desaparece da boca do sujeito. Sinto o cotovelo da minha mulher. Não tem jeito; a visita ao “decorado” acabou.
Só persistiu minha fama de rabugento, irascível e antiquado. Qualidades que não impediram a mudança da velha casa. Na nova, no terraço do décimo segundo andar, aberto para o paliteiro de prédios à frente, revigoro a cada dia a convicção de sempre. Ser humano não foi feito para viver engaiolado. Como os pássaros, querem o céu e a terra, mesmo que em avião e tapera.
Este texto, de alguns anos atrás, Valdir Sanches descobriu remexendo em papéis.
Boa descoberta. Parece mesmo que as casas crescem com o tempo. Deve ser o mesmo processo que faz as roupas encolherem misteriosamente nos armários durante a noite.
Assim como são as pessoas são as criaturas, Valdir.
Pago por quadras de esporte e tênis, piscina de 25 metros e campo de futebol. pago por portaria 24 horas que me vigia.
E a sabiá martela seu canto livre.
Luiz Carlos, Miltinho, vou me embora para Pasárgada…