Outro dia mesmo eu disse no Facebook que, podendo errar, o Temer erra.
Acertou plenamente na montagem da equipe econômica, assim como acertou ao escolher José Serra para o Itamaraty. No mais, na coisa da política propriamente dita, vem cometendo erro após erro.
Assim, é muita dureza ver que, mesmo quando o presidente Michel Temer acerta, enfrenta um baque como essa renúncia de Serra por motivo de saúde.
Parece urucubaca.
Henrique Meirelles, Ilan Goldfajn, Pedro Parente, Maria Silva Bastos Marques… Para a área econômica, Temer sem dúvida escolheu um dream team. E botou no Ministério de Relações Exteriores um dos homens públicos mais bem preparados que este país já teve, gostemos dele ou não, simpatizemos com ele ou não.
Em nove meses, o Itamaraty sob a liderança de José Serra deu uma volta de 180 graus. Abandonou aquelas coisas infantilóides, idiotas, de namoro com os bolivarismos e tudo o que parecesse anti-americanismo, e voltou a ter uma política externa soberana, digna, botando à frente de tudo os interesses do país, e não do partido que eventualmente ocupa o poder.
Minha opinião pode não valer mais que uma moeda furada de três guaranis. Mas a opinião do embaixador Rubens Barbosa é importantíssima – e então aproveito para republicar logo abaixo um artigo dele no Estadão fazendo um balanço dos nove meses da política externa do governo Michel Temer, após 13 anos de apropriação do Itamaraty pelo lulo-petismo.
Aliás, o embaixador Rubens Barbosa seria um nome perfeito para ocupar o cargo de chanceler após a saída de Serra.
Dificilmente haveria nome melhor.
Mas é claro que, entre os diplomatas de carreira, há nomes tão qualificados quanto ele.
Ah, se Temer pudesse se dar ao luxo de não errar desta vez…
A política externa do governo Temer
Por Rubens Barbosa, Estadão, 14/2/2017.
Decorridos nove meses do governo Temer, cabe fazer um primeiro balanço das políticas e das medidas adotadas pelo Itamaraty desde maio de 2016. A partir das diretrizes anunciadas pelo ministro José Serra, quando assumiu a pasta, algumas decisões impactaram o Itamaraty e recolocaram o ministério como principal formulador da política externa e articulador das ações externas dentro do governo.
As prioridades externas dos governos anteriores foram mantidas pelo governo Temer, mas com acentuadas mudanças de ênfase e de orientação. A mais importante foi a eliminação da influência da ideologia na formulação e execução dessas ações. Essa mudança fez a política externa voltar ao seu leito tradicional de defesa dos interesses permanentes do Brasil, e não de plataforma de um partido político no poder.
Em termos institucionais, o ministro José Serra, com o objetivo de fortalecer o Itamaraty e permitir a volta de seu funcionamento normal, obteve recursos para pôr em dia os pagamentos de custeio do ministério, assim como a dívida acumulada nos organismos internacionais nos últimos anos. Os atrasos comprometiam a imagem do Brasil como bom pagador e ameaçavam a suspensão do direito de voto do País. Com vista a ampliar a coordenação na área de promoção comercial, a Apex foi transferida para o Itamaraty, com significativo ganho de eficiência e de redução de custos. Por outro lado, a Secretaria Executiva da Câmara de Comércio Exterior (Camex) passou a ser exercida pelo Itamaraty e a Agência Brasileira de Cooperação (ABC), instrumento de soft power do Brasil no exterior, começou a ter toda a sua atuação revista para poder oferecer seus serviços na América Latina e na África e para abrir a porta a exportações brasileiras.
Pela primeira vez, o Itamaraty e o Ministério da Defesa discutiram formas de ampliar a coordenação e a colaboração nas ações externas. Reunião entre os ministros José Serra e Raul Jungmann definiu áreas prioritárias para o trabalho conjunto. Temas específicos, como os do entorno estratégico (Conselho de Defesa da Unasul), a defesa das fronteiras, operações de manutenção da paz, Atlântico Sul e África passarão a ter uma coordenação mais efetiva.
Em termos de política propriamente dita, o Itamaraty iniciou entendimentos para retirar o Brasil do isolamento dos entendimentos comerciais, acelerar as negociações Mercosul-União Europeia e aprofundar os entendimentos com os países sul-americanos e com o Canadá. O Mercosul passou a ser tratado de maneira objetiva e de acordo com os interesses brasileiros, com vista ao relançamento do grupo e à retomada de seus objetivos iniciais de liberalização de comércio e abertura de mercado. A política ideológica em relação à Venezuela, um dos membros do Mercosul, foi modificada, com a suspensão daquele país pelo descumprimento dos compromissos assumidos no Protocolo de Adesão de 2006.
O Brasil deu novas ênfases ao relacionamento com os países vizinhos sul-americanos, em especial com a Argentina, o México, o Chile e a Colômbia, e, ensaiando alguns passos para avançar na ideia de liderança regional, voltou a dar prioridade aos projetos de integração em infraestrutura, sobretudo quanto à Hidrovia Paraná-Paraguai, que inclui Argentina, Bolívia, Brasil, Paraguai e Uruguai, e à ampliação da cooperação com a Aliança do Pacífico. Por iniciativa brasileira, realizou-se a primeira reunião de ministros do Cone Sul sobre tráfico de drogas, armas e contrabando.
Nas Nações Unidas e em outros órgãos especializados, o Brasil voltou a participar de forma mais ativa do debate sobre temas globais, como os dos direitos humanos, meio ambiente e terrorismo.
As relações com os EUA voltaram a ter a atenção que a principal potência global deve merecer para a ampliação do comércio e a atração de investimentos, ao lado da cooperação nas áreas de meio ambiente, inovação, imigração e energia. O Itamaraty acompanha de perto as novas políticas da administração Trump e estuda formas de aumentar a cooperação com os EUA em áreas de interesse, como a utilização da Base de Alcântara e a renegociação do acordo de salvaguarda tecnológica, que tornariam possíveis investimentos de empresas norte-americanas na área espacial.
Especial atenção está sendo dada à relação com os países asiáticos, em particular com a China. Foram iniciadas conversas exploratórias com o Japão e a Coreia do Sul para a negociação de acordo comercial. A Apex criou um grupo especial para promover a expansão e diversificação das exportações brasileiras para aquele país. Na área agrícola, missão comercial liderada pelo ministro da Agricultura ampliou os contatos e abriu mercados nessa região.
Na Europa, além do acordo de livre-comércio em negociação com a União Europeia, foram iniciados os entendimentos com a Efta e, mais recentemente, com o Reino Unido, para a eventual negociação de acordo de comércio.
O relacionamento com o Brics, integrado por Índia, Rússia, China, África do Sul e Brasil, passou a merecer atenção especial com o aprofundamento do relacionamento bilateral com cada um de seus membros e com o Banco de Desenvolvimento do grupo.
O perfil baixo, como é tradição no Itamaraty, pode dar a impressão de que pouco tem sido feito, mas uma primeira avaliação registra avanços em relação aos últimos 15 anos na atuação externa. Muito ainda está por ser feito para o Brasil poder melhor responder aos desafios resultantes das profundas transformações do sistema internacional. Como uma das dez maiores economias do mundo, o governo, com visão de futuro, terá de formular políticas para aumentar a projeção externa do País, elevar seu perfil e sua influência regional e se reinserir plenamente nos fluxos dinâmicos da economia e do comércio internacional.
22/2/2017
Um câncer livrou o país de um diabetis.
Agora sim seremos recebidos no exterior. Teremos um ministro respeitável.
A mediocridade tomou conta do Brasil…