A tensão predominava no plenário naquele 12 de dezembro de 2007 quando o Senado cravou o fim da CMPF por 45 a 34 votos. Para o então presidente Lula, a derrota significava o fim do sonho do terceiro mandato, enterrado ali junto com o imposto do cheque.
Lula tinha popularidade recorde, mas faltava a ele a maioria parlamentar para atos impopulares.
Como a memória política costuma ser curtíssima, e seletiva, vale lembrar que o ex-ministro da Previdência de Lula e líder do governo petista no Senado era o atual líder do presidente Michel Temer, Romero Jucá (PMDB-RO), que tentou, sem êxito, adiar a votação do adeus à CPMF.
Foi impedido pelos senadores Arthur Virgílio (PSDB-AM) e Tasso Jereissati (PSDB-CE).
Alvos do ódio de Lula, os dois tucanos até pareciam ter sido tragados pela praga do ex. Perderam as eleições seguintes, ficaram fora do jogo. Hoje, são as melhores chances para o PSDB – segundo maior partido do país – sair da lama em que se afundou.
Coube a Tasso assumir a presidência da sigla em substituição ao enroladíssimo Aécio Neves, a quem o senador cearense tenta convencer a abandonar definitivamente a direção partidária para evitar danos ainda maiores à legenda. É o mínimo depois das demonstrações sucessivas de bambeza ética.
Tasso representa ainda a corrente que quer recolocar o PSDB na linha que inspirou sua fundação, em contraposição aos que pretendem dar a direção partidária ao governador goiano Marconi Perillo.
Já Virgílio, prefeito de Manaus pela terceira vez, mexeu com o que a tucanagem imaginava imexível: lançou-se candidato à Presidência da República, anunciando a pretensão de disputar as prévias partidárias. Mais: com uma plataforma arrojada, em que fala de reformas da Previdência e tributária profundas, e privatização geral – incluindo a intocável Petrobras.
Além de incomodar a briga paroquial entre o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e seu pupilo, o prefeito João Doria, Virgílio acrescenta algo a que o PSDB e todos os demais pretendentes parecem não dar importância: o debate de temas.
Com o seu conhecido espírito polemizador, convoca o eleitor a dicussões que os pré-candidatos protelam ao máximo. Cria desconforto ao PMDB de Temer e Jucá, incomoda o eixo paulista de poder, desanca discursos do lulismo ao expor sua oposição a gente que o PT hoje acusa de “golpista” mas que foi aliada de primeira hora.
E coloca o PSDB em uma encrenca no mínimo curiosa. Alckmin, que defende as prévias por ter maioria nos diretórios, e Doria, que aposta no critério de pesquisas, não contavam com a hipótese de um ano antes dos debates eleitorais obrigatórios ter de expor ideias e plataformas.
Um problema e tanto para eles, mas com enorme ganho para o eleitor.
Aos 72 anos, Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto, político experiente, filho e neto de políticos, que começou sua vida pública no PCB, dificilmente será ungido candidato. Mas, um ano antes das eleições, pode ter acertado o alvo, substituindo a chatice de discutir o quem pela importância de o que fazer e como fazê-lo.
Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 22/10/2017.