No excelente filme Getúlio, de 2014, no qual Tony Ramos dá um show de interpretação, há uma cena que muito me impressionou.
Um dia ou dois antes de se matar, o presidente, entre acabrunhado e irônico, diz a um de seus assessores: Em todos os meus anos à frente do Brasil, nunca ninguém me procurou para pedir algo para o país. Os pedidos foram sempre em proveito próprio…
Que sentimentos machucariam o Dr. Getúlio se ele estivesse ainda entre nós e constatasse que nada mudou, além da sede da capital?
Ninguém se preocupa com o Brasil, mas quase todos se preocupam consigo mesmo.
O atual presidente, Michel Temer, anda tão preocupado em se manter no Poder que virou useiro e vezeiro em assinar portarias para revogá-las em seguida: assina para agradar gregos e revoga para agradar troianos. Tudo depende das reações que suas portarias provocam na Esplanada dos Ministérios.
O Brasil? Ah! o Brasil que se cuide…
Agora mesmo ele assinou uma portaria que foi criticada aqui e no exterior, uma portaria que nos põe como exemplo de país que “abranda a definição do que seja trabalho escravo”, nas palavras de Fernando Henrique Cardoso.
Já o ministro Gilmar Mendes – ah! o ministro Gilmar Mendes!- fez questão de dizer que, apesar de ter um trabalho exaustivo, o seu não é um trabalho escravo. Ele trabalha por prazer!
Ele achou melhor esclarecer a situação, pois o fiscal das garagens nas quais guarda seu carro, de tanto ver o carro do ministro ali estacionado, poderia pensar que ele estava, nos dois tribunais (STF e TSE), na condição de trabalhador escravo!
Não é nada disso! Calma, fiscais! O ministro não disse, mas digo eu: trabalha muito, viaja muito por prazer, tem boas férias que devem lhe dar muito prazer e recebe, creio eu, um bom salário também com prazer.
Mas tem mais: o que sentiria o Dr. Getúlio ao ver que o único movimento pró-Brasil, a célebre Lava-Jato, corre o risco de desmilinguir, salvando a pele de figuras que hoje nem dormiam mais, de tanto medo, e que podem vir a respirar aliviadas com a ‘ardilosa armação’ contra o combate à corrupção?
Será que a ninguém ocorre que se houvesse uma Lava-Jato em 1954 o Brasil teria escapado de ver seu ditador sair da vida para entrar na História? Seu destino seria outro?
Este é ou não é um país único no mundo? Aqui ninguém é culpado. Todos são vítimas de perseguição. A ditadura é do povo, ao contrário das ditaduras onde o povo é oprimido, nós, pobres metidos a besta, oprimimos nossos dirigentes. Quem os salvará?
Retrocedemos a passos largos. O último prego no caixão veio ontem, na Comissão de Cultura e de Segurança Pública na Câmara dos Deputados. O Estado de Alagoas, que já nos deu Graciliano Ramos, Aurélio Buarque de Holanda e Nise da Silveira, entre outros, agora nos presenteou com uma flor: o deputado Givaldo Carimbão. Por se achar filho de Maria, Mãe de Deus, achou que tinha o direito de agredir violentamente a mãe do ministro da Cultura, já falecida.
Será pedir muito aos alagoanos que nunca mais nos enviem figuras como o Carimbão?
Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 21/10/2017.