Gostaria de fazer uma estátua para ela, em Ipanema, bem em frente de onde foi o Oba Oba, a casa de shows do Sargentelli. Poderia ser uma escultura como a do Carlos Drummond de Andrade, em Copacabana (sem óculos). Com todo respeito ao poeta, as qualidades dela iriam despertar muito mais a atenção, iluminariam o lugar.
Mas como chamá-la? O que estaria na placa: afrodescendente de tez clara? Alguém pode imaginar o Sargentelli entrando no palco e, diante da platéia encantada com a exuberância das mulatas, abrir os braços e exclamar: “Com vocês, as nossas afrodescendentes de pele clara”.
Afrodescendente, convenhamos, está mais para catálogo de antropologia. As pessoas certamente estão interessadas apenas em se referir a outra, não em anunciar suas origens. Como, então, poderia ser? Eu gosto de negro e negra. Acho vigoroso, sonoro, bonito.
E para as mulatas prefiro… mulatas. O nome tem a ver com mulo, ou mula, animais mestiços, que acabaram dando nome a filhos de branco com negra. Bem, mas isso foi há quatro séculos, durante a escravidão. Quatrocentos anos acho que são suficientes para consagrar um nome com alma própria.
O banimento da palavra, hoje, contém uma injustiça para as belas mulheres que a marchinha de carnaval considera “a tal”. Se persistir a “proibição”, as mulatas como tal, e sua história, desaparecerão.
Fico pensando… No Largo do Paissandu, no centro de São Paulo, está o bronze de uma comovente mamãe, amamentando seu filho. Nome da obra (de 1955): Mãe Preta. Mais do que uma imagem, um símbolo. Alguém se apresenta para mudar o nome?
Fevereiro de 2017
Valdir tenha cuidado com as patrulhas que podem nos acusar de “apropriação cultural”.
A mulata gostosa merece estátua.