Nós, os da minha geração, somos peças de museu em relação à Internet. Ao contrário dos adolescentes de hoje que já nasceram num mundo digital, nós fomos acompanhando o surgimento de novidades tecnológicas e tendo que aprender a lidar com elas.
Muitas trouxeram um benefício tão evidente que escusa discuti-las. Por exemplo, celulares. Telefones fixos eram caros e difíceis de serem instalados. Hoje compramos o celular e já saímos da loja usando o aparelhinho. Que alívio para os pais terem acesso aos filhos quando esses estão na rua! Em compensação, aos filhos nem sempre agrada estarem tão ao alcance dos pais…
E-mails! Não é uma excelente novidade? Lembram como era complicado enviar uma notícia importante para um amigo distante? Agora estamos a um clique das pessoas com quem queremos nos comunicar.
Mas como tudo – ou quase tudo, vá lá – tem dois lados, a Internet entrou em nossas vidas possibilitando bons e maus passos. Qualquer pessoa que tenha um teclado e uma conta web pode postar sua opinião a respeito de qualquer coisa ou qualquer tema. Não precisa de diplomas, nem de licenças especiais, de nada. Senta, digita, escreve o que pensa e pronto, Envia!
Logo no início da Internet fiquei encantada com esse detalhe e muitas vezes defendi, aqui neste Blog ou em papo com amigos, a total liberdade da Internet. Lembro de uma noite de muitos comentários, logo que o Blog do Noblat foi inaugurado, ao debater com um comentarista do blog que usava – e usa – o apelido Ptsauro, ele dizer que eu um dia ainda iria me arrepender dessa opinião. Pois aqui estou dando a mão à palmatória, Ptsauro.
As redes sociais, que poderiam ser um espaço dedicado à inteligência, tornaram-se, infelizmente, o reino da maledicência e da maldade. E da mediocridade.
A liberdade de expressão é um direito fundamental conhecido desde a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, assinada pelos membros da Assembléia Nacional Constituinte da França em agosto de 1789: La libre communication des pensées et des opinions est un des droits les plus précieux de l’homme, tout citoyen peut donc parler, écrire, imprimer librement, sauf à répondre de l’abus de cette liberté dans les cas déterminés par la loi. Note bem, leitor: excetuando-se o abuso dessa liberdade nos casos determinados pela Lei!
As redes sócias andam abusando tanto, dizendo o que devem e o que não devem dizer, acusando sem provas nenhumas; usando ofensas e xingamentos; copiando e divulgando o que lhes cai em mãos de tal modo que a maioria das nações civilizadas começa a se preocupar em chancelar limites para seu uso.
Limites que incluem o respeito à vida privada e ao direito de imagem; não incitar ao ódio racial, étnico ou religioso; não fazer apologia a guerras ou terrorismo; nunca debochar ou criticar orientações sexuais diferentes mas também não estimular orientações sexuais que possam vir a ser prejudiciais; não estimular o uso de estupefacientes e não debochar ou desprezar dos hábitos de outras nações que não a nossa, entre outros e necessários limites.
Leio numa dessas redes sociais uma nota que, desculpem, mostra bem o nível medíocre de quem a reproduz: uma bandeirola diz, em letras grandes e coloridas, que os franceses não engordam apesar de comerem manteiga, patês, chocolates e tomar muito vinho. Com certeza, conclui o gênio que redigiu essas palavras, é o banho que engorda…
Que venham os limites, mais depressa do que imediatamente! Limites, vejam bem. Censura, NUNCA!
Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 10/11/2017.