Quem forjou a frase do título não fui eu, mas dona Biloca, a sábia amiga e conselheira do colunista Roberto Pompeu de Toledo, segundo artigo publicado por ele na Veja da semana passada, edição 2540.
É um país curioso, original, estranho… Dizem que é um país pobre, por isso sem saneamento básico para todos, sem boas escolas, sem hospitais, com poucas estradas diante de seu imenso território.
Tem uma moeda que foi a salvação da lavoura quando nasceu, em 1º de julho de 1994. Moeda forte, que foi recebida com grande entusiasmo. Moeda que enche nossos cofres e os bolsos dos amigos do rei. A unidade, o real, já não compra o mesmo que comprava em 1994, claro que não. Na verdade, nem seu milhar. Ninguém mais fala em um mil reais. Agora só ouvimos falar em milhão, bilhão e, às vezes, trilhão…
De onde saem os bilhões mencionados nos relatos sobre grandes propinas? Como circulam pelos diversos bolsos por onde passam? É tudo em malas, como com o ex-deputado Loures, nenhum milhão passa pelos bancos? Por falar em bancos, cadê o COAF (Conselho de Controle de Atividades Financeiras, órgão administrativo brasileiro que foi criado pela lei nº 9.613, de 3 de março de 1998, durante as reformas econômicas feitas pelo governo de Fernando Henrique Cardoso)?
Tenho a impressão que a grande maioria dos brasileiros nem compreende as cifras das quais ouve falar. São cifras tão distantes de nossa realidade que nem chocam: entram pelos nossos ouvidos como se fossem os dizeres das bruxas nas histórias de fada. São assustadoras, mas não devemos nelas acreditar…
Só que não, como é moda dizer hoje em dia. Não são passagens de histórias de fadas, não. É a realidade. O que vem provar que o Brasil é um país muito, muito rico. Com um detalhe macabro: quem enche as burras do Governo é o cidadão, mas ele não tem direito ao uso e ao usufruto de sua moeda. Isso é só para os eleitos, os grandes da Política ou do Empresariado. E não adianta chiar. Leia ou ouça calado e espere que o Carnaval vem aí, para aliviar nossas dores.
Mas é só nos cifrões que o Brasil é curioso? Bem, tudo começa e acaba com moedas, sem dinheiro as narrativas morreriam, sobretudo as narrativas que levam à intervenção da Justiça.
Justiça amável, generosa, às vezes até leniente. Exemplos: a madrasta que ajudou o marido a matar a filha de cinco anos vai poder cumprir o resto de sua pena no semiaberto. Com um detalhe inacreditável: a expectativa é que ela deixe a prisão pela primeira vez em outubro, no Dia da Criança! Outra amabilidade da Justiça é a prisão também no semiaberto daquela mocinha que tramou com o namorado e o irmão do namorado a morte violenta de seus pais. Essa já deixou a carceragem num Dia dos Pais, o que tem toda a lógica!
Tem mais? Os irmãos Batista, donos da JBS, cuja delação traz informações impressionantes sobre o propinoduto brasileiro, por ter revelado malfeitos escabrosos, de parte a parte, i.e., deles com as autoridades, das autoridades com eles, receberam um agradecimento da Justiça: eles não sofreram nem sofrerão nenhuma pena. Continuam livres, leves, e soltos. E ricos.
E os felizardos que ficaram um bocadinho na prisão para, em seguida, como usuários de uma elegante tornozeleira, partirem para a prisão semiaberta? São esses que me levaram a mencionar a simpática e inteligente dona Biloca, que teve uma ideia iluminada. Ela sugere que a prisão domiciliar não seja cumprida nas mansões, fazendas ou condomínios luxuosos dos ‘tornozelados’. Para que a Justiça fosse justa, segundo dona Biloca, o certo seria que os beneficiados com a prisão domiciliar fossem cumpri-la numa unidade do Minha Casa, Minha Vida, comprada e mobiliada pelos próprios.
A simpática e inteligente dona Biloca, ao lhe perguntarem se o ex-detido não podia ir viver, por exemplo, no Complexo do Alemão, primeiro recusou a sugestão em respeito aos moradores do Alemão. Mas depois observou que talvez o tiroteio nas madrugadas ajudasse na recuperação desses tipos: “Acorda! Este é o Brasil que você ajudou a construir”, diriam os tiros.
Dona Biloca, se dependesse de mim, a senhora seria a ministra da Justiça do Brasil!
Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 28/7/2017.