Eu tenho um bocadinho de pena de Warren Beatty. Já não lhe bastava ser tímido e inseguro, o que é até muito compreensível se nos dermos conta de que ele não tem mais de um metro e 88 de altura.
Acresce que Beatty foi vítima, praticamente durante cinco décadas, de todo o tipo de abuso e exploração. Cerca de 12.775 mulheres usaram e abusaram sexualmente dele. O caso é tanto mais escandaloso quanto são públicos os pormenores e de grande celebridade as mulheres que transformaram Beaty num humilhante objecto sexual. Hedda Hopper, patroa do gossip em Hollywwod, chegou a dizer, de uma actriz nomeada para os prémios da Academia: “Não ganhou o Oscar, mas não tenho pena nenhuma dela, levou o prémio de consolação, Warren Beatty.”
Mamie van Doren, uma das abusadoras, despiu-o e, perante o que lhe saltou à vista, correu a buscar a fita métrica. Susannah York, outra actriz abusadora, chamava-lhe com desfaçatez não caritativa “o meu ossito de peluche”. As amigas de Joan Collins, outra das que impiedosamente desgraçaram Beatty, garantem que ela o obrigava a fazer sexo sete vezes seguidas, o que a própria é incapaz de confirmar: “Pode ser que tenha acontecido, mas eu, depois da terceira, caía esgotada na cama, cansada demais para me lembrar do que acontecia.” E até uma cantora, Carly Simon, invertendo o ónus da prova (não sei se se pode dizer assim, mas o Diogo Leote logo me explica), lhe dedicou uma canção, que faz deste homem inocente e humilhado, um jactante Casanova.
Mas se julgam que escrevi esta post para fazer uma torpe lista de baixezas, estão bem enganados. Ali em cima, na foto que é a única razão deste post, bem podem ver Warren, a vítima e Joan, sua algoz. Consegui saber que a foto foi tirada durante um ensaio da mana de Beatty, Shirley MacLaine, no Lido, em Paris. A graça é que, nesses anos 60, estão a beber um vinho portuguesíssimo, o sparkling e inenarrável Lancers, cujo prodigioso design da garrafa fez história, servindo depois de vazia e seca, como as garrafas de Mateus Rosé, para candeeiros lindos e originais.
Este artigo foi originalmente publicado no semanário português O Expresso.
Manuel S. Fonseca escreve de acordo com a antiga ortografia.