Ocupação de 364 escolas, pouco mais de 2,2% dos 16 mil locais em que se realizam provas do Enem neste fim de semana, adiamento do exame para 240 mil dos 8,6 milhões de inscritos. Essa é a dimensão do movimento que se tornou bandeira única das correntes de esquerda que se viram à margem da preferência popular nas eleições municipais, e que, sem qualquer escrúpulo, jogam em cima dos jovens – estudantes ou não – o peso da derrota.
O não à PEC do Teto, já aprovada na Câmara e perto de ser votada pelo Senado, e à medida provisória que muda o ensino médio, é a principal frente de batalha para esse grupamento. Nas escolas ocupadas, na mídia e no Congresso. Se elas vigarem, afirmam os arautos da esquerda, a educação será definitivamente enterrada.
E o dizem como se o país tivesse alguma excelência a exibir na área, com resultados – especialmente no ensino médio – cada vez piores. No aprendizado e na frequência.
Melhor talvez fosse o envio de um projeto de lei ao de uma MP para estabelecer mudanças no currículo, mas a urgência de alterar o quadro de fracasso do ensino aos jovens justifica a celeridade. Obriga o Congresso, que há anos protela esse debate, a acelerar suas considerações.
A luta contra a PEC e a MP está na boca dos dirigentes de entidades estudantis e dos autointitulados movimentos populares. Aparece em letras garrafais no site do PT e no discurso do ex Lula, repetido esta semana em Buri, interior de São Paulo. “A primeira coisa que ele [ministro da Educação] propôs é uma PEC 241, para cortar gastos da educação, e uma reforma do ensino médio, que vai piorar muito a situação”.
Como é useiro e vezeiro, são falas sem qualquer lastro. O ministro não propôs PEC alguma, e Lula, claro, sabe disso. E a MP da reforma do ensino médio está longe de piorar o que já é para lá de ruim.
A PEC 241 aprovada pela Câmara e transformada em PEC 55 no Senado não diminui um único centavo da saúde, com 15% do orçamento, nem da educação, com 18%, atrelando os reajustes das duas áreas à inflação. Tratadas como exceção, ambas estão aptas a receber incrementos, mas não estão sujeitas a reduções percentuais na participação orçamentária. Em suma, podem ter mais ou menos recursos dependendo da capacidade de recuperação da economia do país.
Nada parecido com os cortes que a então presidente Dilma Rousseff se viu obrigada a fazer depois de impor ao país a pior recessão da História. Encalacrada por gastar muito mais do que podia, dois meses antes de ser deposta, Dilma anunciou cortes severos: R$ 2,3 bilhões na Saúde e R$ 4,2 bilhões na Educação, pasta que já sofrera tesourada de R$ 10,5 bilhões no ano anterior. No Congresso, as medidas receberam apoio irrestrito do PT e aliados da época e até da oposição.
Em nenhuma das duas ocasiões estudantes foram convocados a se manifestar. Não viram na redução orçamentária qualquer risco para a educação. Não piaram.
Prova irrefutável de que boa parte não passa de conveniente massa de manobra, usada para calar ou agir, dependendo das circunstâncias.
Como em qualquer protesto, há méritos a serem registrados: jovens lideranças surgem. Algo que pode refrescar o ambiente desde que a fúria em cooptá-las não seja tão intensa. Por vezes desrespeitosa, chegando a criar cenas de constrangimento.
Historicamente, a esquerda sempre foi eficaz na doutrinação. Talvez creia que ainda é capaz de fazê-lo. Mas o repertório da utopia que tanto sucesso fez no passado foi substituído por ideologias cambaleantes, não raro sustentadas em premissas falsas, ultrapassadas. No fascismo e em populismo barato. E ainda que povoem sonhos, tornam-se absurdamente deseducadoras quando pregam que governos podem e devem gastar mais do que arrecadam.
Para o bem geral da nação, a maioria — até os mais jovens – não se engana. Sabe (e as eleições municipais demonstram isso) que dinheiro não dá em árvore e que nada é de graça: se governos dão alguma coisa a cobrança sempre vem. E alta.
Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 6/11/2016.