Ao ler ou ouvir depoimentos de alguns de nossos políticos fico perplexa: como pode o Brasil estar na situação em que está se só temos políticos de altíssimo nível ético, por pouco merecedores de beatificação?
Dona Dilma, a afastada, declarou que “É por ter repelido a chantagem que estou sendo julgada”. Ela foi tão discreta, tão elegante, que não disse quem a chantageou nem o que o chantagista queria. Até poucos dias atrás, ela se dizia vítima de um golpe, mas como ser de escol que é, para não entregar ninguém, trocou a palavra ‘golpe’ por ‘julgamento’. Não conheço outra pessoa que fosse capaz de um gesto tão magnânimo!
Já o Lula, ah! o Lula! Que homem extraordinário! Podem investigá-lo quanto quiserem que não encontrarão provas de que ele tenha pedido R$ 10,00 que seja a um empresário.
Ele está tão seguro do que diz que compara a investigação da Operação Lava-Jato à coceira irritante de um carrapato.
Na mesma entrevista em que se queixa do carrapato, o ex-presidente disse: “Eu já fui prestar depoimento sobre as minhas viagens, sobre medida provisória, sobre depoimento do Delcídio. Acho muitas das perguntas insólitas, mas eu sou um cidadão igual a qualquer um. Eu não estou acima da lei, se eles acham que houve algum problema eles têm que investigar. Fiquei muito ofendido quando invadiram a minha casa, mas tudo bem”.
Fala sério, leitor, Lula, o melhor presidente que o Brasil já teve, segundo sua modestíssima opinião, o mais honesto brasileiro que jamais houve, o cidadão igual a qualquer outro, não é um ser humano exemplar? Fora de série? Que outro homem diria isso depois de ser atacado por um enxame de carrapatos? “Tudo bem! Coça, mas tudo bem!”.
Mas não ficamos só nisso. Tivemos ontem um pronunciamento do senador Renan Calheiros que tinha como mote um balanço do primeiro semestre de 2016 no Senado Federal. Ele nos garante que há 11 anos não comemora tanto uma eleição na Câmara dos Deputados como a do Rodrigo Maia.
Sorridente, com jeitão de homem em paz com sua consciência, ele não nos deixa esquecer que o Senado votará, sim, o projeto de ‘abuso de autoridade’ na segunda semana de agosto. Com a serenidade dos inocentes, como ele afirma, Renan assegura que a proposta está “amadurecida e pronta para ser votada”.
A proposta foi encaminhada para uma comissão especial, criada estrategicamente para acelerar seu trâmite. Mas não pense, desavisado leitor, que esse ‘abuso de autoridade’ se refere ao MP, à PF, ou à Operação Lava-Jato. Nada mais distante. Garante Renan Calheiros: não é um projeto para embaçar nenhuma investigação! Mais se refere ao guarda da esquina que multa por prazer, ou à defesa de um pipoqueiro injustiçado.
O pronunciamento do presidente do Senado é rico em informações fantásticas. Se fosse só áudio eu até duvidaria que aquelas palavras se referem ao Senado Federal do Brasil. Mas ali está Renan Calheiros, ao vivo. É um pronunciamento longo. Tem que ter paciência. Mas eu, se fosse o leitor, não perderia a chance de assistir a essa peça magistral, copiada aqui.
Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 16/7/2016.
Drummond: “No meio do caminho tinha uma pedra. Tinha uma pedra no meio do caminho”.
O projeto de lei Escola sem Partido, do deputado federal Izalci Ferreira (PSDB-DF), proíbe professores a ensinar “conteúdos contrários às convicções religiosas ou morais dos pais”. Onde querem chegar?
No passado, dizia-se que os comunistas comiam criancinhas. Hoje dizem que os professores fazem lavagem cerebral, ou melhor, “assédio ideológico” nos alunos, o que pode dar cadeia, se for aprovada o projeto de lei apresentado por outro parlamentar do PSDB, deputado Rogério Marinho, do Rio Grande do Norte. O projeto prevê pena de três meses a um ano de prisão para quem cometer “assédio ideológico”.