O laboratório de alquimias do Dr. Falcão está fazendo o que pode e o que não pode para tentar manter intacta a imagem de seu patrão Lula.
Manter intacta, neste momento, não passa de uma figura de linguagem, porque não se consegue mais deixar intacto o que já sofreu rachaduras. Restaurar talvez fosse a palavra mais correta para a tentativa de devolver à imagem de Lula o vigor que tinha nos tempos heróicos do estádio da Vila Euclides.
O Instituto Lula, que, se seguisse o padrão normal de organizações dessa espécie, deveria ser um órgão dedicado a altos estudos de temas relevantes da realidade nacional, transformou-se no ventríloquo de seu boneco e um emissor de notas oficiais para tentar explicar as turbulentas andanças de seu chefe.
Em sociedade com Ruy Falcão, o presidente do PT, os escribas do Instituto Lula estão queimando as pestanas para achar um caminho por onde seu inspirador possa caminhar sem tropeçar nas contradições ele plantou em seu próprio caminho.
Em vez de vir a público e convocar uma entrevista coletiva em que tenha a coragem de submeter-se sem disfarces a todos os questionamentos a que for submetido pela imprensa independente, Lula prefere tediosas sessões onde repete o seu Sermão da Montanha à claque de fiéis já convertidos, como se ensinasse, monotonamente, o Padre Nosso aos seus vigários.
Na falta de uma verdade comprovada, sólida e definida, Lula, com suas ambiguidades, deixa que as suspeitas vazem por todos os lados, como a água que escorre de ânfora rachada.
Ele não tem nada com nada, como sempre, mas seu coroinha Gilberto Carvalho resolve ajudá-lo com uma frase cheia de segundos, terceiros e quartos sentidos.
Segundo ele, é “a coisa mais natural do mundo” que uma empreiteira queira fazer um mimo a um ex-presidente. Não sabemos se ele se referia ao tríplex do Guarujá, ao sítio de Atibaia, a ambos ou a nenhum deles. E muito menos ao que ele quis dizer com essa “coisa mais natural do mundo”. Coisa mais natural onde, cara-pálida?
O ex-presidente, que nunca tem nada a ver com nada, deixa que essa ambiguidade paire no ar, não a desmonta com a devida firmeza, reluta em dizer claramente do que se tratam essas, digamos, “operações imobiliárias”, e para aumentar as dúvidas que pairam no ar diz, num pronunciamento sobre os 36 anos do PT, que “cometemos erros e temos que pagar por eles”.
O PT está se autodestruindo num mar de ambiguidades e não consegue sequer estruturar uma defesa convincente, baseada num projeto para o país que não seja a tediosa repetição de uma retórica balofa, vazia de sentido, desgastada, maltratando a inteligência do país com a repetição de slogans mais velhos que a Sé de Braga, que não empolgam mais nem a sua platéia mais infantilizada.
Colocar a culpa de tudo nas elites brancas de olhos azuis que não gostam de pobres em avião, em filhas de empregadas na universidade, na imprensa golpista, na oposição, nos conservadores, nos que não se conformam com as “conquistas sociais”, é um mantra que já perdeu o prazo de validade e que começa, perigosamente, a beirar o ridículo, como qualquer slogan repetido à exaustão até a perda total de sentido.
Talvez o sonho de Lula e do PT seja o de lidar para todo o sempre com uma nação de imbecis, mas esse é mais um de seus sonhos impossíveis. Como aquele de achar que o seu líder está acima da lei.
Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 12/2/2016.