São tantos os absurdos cometidos pelo desgoverno lulo-petista, são tão diários, são tão a cada dia mais acachapantes, violentos, inomináveis, que vamos deixando de reagir com a indignação devida.
Não é propriamente que tenhamos deixado de reagir, que tenhamos deixado de nos indignarmos. Não é isso.
É que, soterrados por tanto absurdo, tanta ignomínia, tanta mentira, tanta podridão, às vezes não reagimos à altura de alguns deles.
Escrevo aqui tendo em vista especificamente essa história – incrível, inaceitável, tresloucada – do comissário do lulo-petralhismo Milton Rondó Filho, que, na sexta-feira, 18 de março, “enviou telegramas a todas as embaixadas e representações do Brasil no exterior recomendando a difusão de mensagens de entidades alertando para o risco de um golpe político no país”, como informou matéria do Globo da quinta seguinte, dia 23.
Milton Rondó Filho, segundo a reportagem assinada por Gabriela Valente, é “um ferrenho defensor do governo”. No Ministério das Relações Exteriores da República Federativa do Brasil, esse sujeito é o “responsável pela área de combate à fome”.
Como assim? O Ministério das Relações Exteriores tem uma área de combate à fome? À fome de quem, cara pálida? Dos miseráveis das favelas do Sudeste? Dos miseráveis do sertão nordestino? Mas o Ministério é das Relações Exteriores. Então o Rondó é o responsável pela área de combate à fome… no Sudão? Em Zimbábue?
Deixa pra lá. A existência, no MRE, de uma “área de combate à fome” é coisa menor, nesta história de terror.
***
Conta a reportagem do Globo:
”Às 16h18, o Itamaraty enviou outro comunicado, novamente feito por Rondó. O telegrama 100.755 retransmite uma nota da Associação Brasileira de Organizações Não-Governamentais (Abong), que reúne 250 entidades. O texto começa com a seguinte frase: ‘É momento de resistência democrática!’, fala em ‘profunda preocupação’ com os rumos do processo político e ataques dos grandes grupos econômicos e da mídia a governos legitimamente eleitos, e conclama, independentemente das posições políticas e ideológicas, a sociedade para a luta pela democracia : ‘Não ao Golpe! Nossa luta continua!’.
***
Aqui, creio, é hora de parar para pensar um pouquinho.
Como é que é? Como é que é mesmo que é?
É isso: um lulo-petralhista se apoderou da rede de contatos do Ministério das Relações Exteriores da República Federativa do Brasil para passar telegrama para todas as embaixadas e representações diplomáticas brasileiras nos sei lá mais de 180 países do mundo dizendo: olha aí, mundo, estão dando um golpe contra o governo popular da companheira presidenta Dilma Rousseff!
Vamos tentar lembrar as coisa básicas.
O Itamaraty não pertence ao PT. Não é do lulo-quadrilhismo. A máquina pública pertence à República – não ao partido que está ocupando provisoriamente o governo.
O PT não assinou a Constituição de 1988.
O PT torpedeou como pôde o Plano Real e a Lei de Responsabilidade Fiscal.
O PT pediu o impeachment de Fernando Collor de Mello (agora aliado de primeira hora do PT), de Itamar Franco e de Fernando Henrique Cardoso. Várias vezes.
Os mesmos “juristas” esquerdistas, esquerdóides, esquerdiotas que agora dizem que impeachment é golpe assinaram e/ou aplaudiram os pedidos de impeachment de Collor, Itamar, FHC.
Ministros do Supremo Tribunal Federal voltaram a afirmar, com todas as letras, nesta quinta-feira, 24, que impeachment não é golpe. Está na Constituição.
***
Agora tente imaginar, caríssimo leitor, se alguém do PSDB tivesse, numa das várias vezes em que o PT tentou pedir impeachment do presidente Fernando Henrique Cardoso – eleito em primeiro turno, nas duas vezes –, usado a máquina do Itamaraty para berrar ao mundo: “Socorro! O PT está querendo dar um golpe de Estado!”
Tente imaginar o que o Lula e seus asseclas, seus exércitos, não teriam feito!
Mas eles acham que eles podem fazer tudo, absolutamente tudo.
Até porque eles fazem tanta coisa absurda que o país acaba não conseguindo reagir a tudo com a indignidade devida.
***
Essa ação do comissário Milton Rondó Filho foi tão tresloucada que até mesmo o próprio Ministério das Relações Exteriores a rechaçou. Como disse a reportagem do Globo da quinta, “a ordem acabou abortada por determinação da Secretaria Geral do Itamaraty na própria sexta-feira, mas depois que as mensagens já haviam sido disparadas para postos diplomáticos em todo o mundo”.
Bem, mas então o comissário Milton Rondó Filho foi demitido. Ou, no mínimo, rebaixado. Bem, se não foi sequer rebaixado, foi pelo menos suspenso de suas funções.
Não? Nem uma suspensãozinha?
Hummm. Uma advertência por escrito, para marcar sua ficha funcional.
Mas que nada!
Apenas e tão somente perdeu o direito de enviar circulares por conta própria. Da próxima vez em que fizer sandice, terá que pedir autorização a um outro companheiro comissário. Naturalmente, terá a autorização.
***
Não dá mais para aguentar este desgoverno.
Não dá mais para aguentar este desgoverno.
Não dá mais para aguentar este desgoverno.
24/3/2016
No dia 25, sexta-feira, o Estadão publicou um bom editorial exatamente sobre esse tema. Aí vai:
Limites da boçalidade
É próprio de uma democracia que cada cidadão seja livre para escolher suas posições políticas. Ir a uma manifestação pró-impeachment da presidente Dilma Rousseff, participar de um evento pró-governo, advogar por uma causa no seu círculo de amigos, simplesmente torcer reservadamente por um determinado desfecho da crise ou mesmo manter-se indiferente a tudo o que se refere ao mundo político – a liberdade política oferece muitas possibilidades ao cidadão. Essas possibilidades, no entanto, não incluem o uso dos órgãos públicos para fazer campanha político-partidária.
Uma ação assim seria evidente abuso, a atentar contra a isenção do Estado e a liberdade política dos demais cidadãos. Mas foi o que ocorreu na sexta-feira, dia 18 de março, quando o Ministério das Relações Exteriores (MRE) foi usado para enviar telegramas alertando para o risco de um golpe de Estado no País.
No dia em que estavam previstas manifestações contrárias ao impeachment de Dilma, o diplomata Milton Rondó Filho – que é ligado a Miguel Rossetto, ministro do Trabalho, e já assessorou o MST – quis dar sua contribuição à causa petista e enviou, por meio da Secretaria de Estado de Relações Exteriores do Itamaraty (Sere), mensagens de teor político-partidário a todas as embaixadas e representações do Brasil no exterior.
Expedida por volta do meio-dia, a primeira mensagem solicitava a designação de um servidor – de preferência, um diplomata – para se responsabilizar por “apoiar adequadamente” o diálogo entre o Itamaraty, a sociedade civil brasileira e organizações locais.
A segunda mensagem, enviada no meio da tarde daquele dia, retransmitia uma nota da Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais (Abong), com frases do seguinte calibre: “É momento de resistência democrática! Não ao Golpe! Nossa luta continua!”.
Horas depois de enviada a segunda mensagem, a Secretaria-Geral do Itamaraty expediu um comunicado pedindo para “desconsiderar e tornar sem efeito as circulares telegráficas 100.752 e 100.755”. Mesmo assim, uma terceira mensagem de teor político-partidário foi enviada. O telegrama 100.757 reproduzia a Carta aos Movimentos Sociais da América Latina, denunciando um “processo reacionário que está em curso no País contra o Estado Democrático de Direito”. Posteriormente, o Itamaraty informou que Rondó Filho foi “admoestado” e está impedido de emitir novas circulares.
O episódio é grave. Além do evidente uso da máquina do Estado para fins político-partidários, os mentores da aloprada ação – seria bastante estranho achar que Rondó Filho atuou sozinho, sem nenhum respaldo do Palácio do Planalto ou do famoso assessor da Presidência da República para assuntos internacionais – rebaixam o Brasil no plano internacional, como se o País não fosse suficientemente capaz de resolver seus assuntos internos. A ironia é que esse tipo de atuação parta de quem, diante de graves violações de direitos humanos em outros países – Venezuela, por exemplo –, sempre diga que se deva deixar cada nação resolver sozinha seus problemas internos.
Além do episódio de patrulhamento ideológico e infantilismo internacional do funcionário do Itamaraty, a chanceler argentina, Susana Malcorra, declarou que o Mercosul pretende divulgar “o mais rápido possível” uma nota de apoio institucional ao governo brasileiro. Segundo a chanceler, em caso de impeachment da presidente Dilma Rousseff e em virtude da cláusula democrática do bloco, o Brasil poderia “eventualmente” ser temporariamente desvinculado do Mercosul. É sintomático do estágio em que se encontra o governo Dilma Rousseff que vá buscar apoio no inconsistente bloco sul-americano. Nessas circunstâncias, o desespero e a insânia dos lulopetistas em vias de perder preciosas boquinhas poderiam mesmo levá-los a pedir o apoio dos companheiros bolivarianos. Essa gente, afinal, tenta fazer do Brasil uma república bananeira sobre a qual possam reinar, boçais e soberanos.
O texto parecia ser do Arnaldo Jabour.
O meu xará só defendeu seu carguinho onde mata a sua fome. Um leal puxa saco.
Que dizer do ministro Teori?
Sérgio Vaz parece que adotou estilo Global.
Vai ter golpe sim, golpe constitucional, mas golpe. Falta apenas o sinal da câmara, já que as câmeras já sinalizaram. Falta também a infração, digo dispositivo legal. Seriam as pedaladas, seis milhões nas ruas, ou a simples indignação dos perdedores derrotados por 54 milhões de imbecis? Falta apenas dar roupagem legal ao golpe.
Falta pouco Sérgio, sua retardada militância vai entrar para a história.
Parabéns pelo “direitoso” texto.
Caramba…entra dia, sai dia e o Miltinho não compreende o tanto de absurdos que esta camarilha praticou…
Miltinho…pedalada é crime de responsabilidade…
Miltinho…falsificar termo de posse é crime comum…
Miltinho…mentir na eleição é estelionato eleitoral…
Tá bom ou quer mais???
Chega, chega, que venha o golpe antes que um cadáver.
Como espectador assustado, vejo como se desvia e se desvirtua uma oportunidade única. Aos poucos, numa sequência de decisões jurídicas questionáveis, uma investigação que poderia enfim combater a corrupção sistêmica que nos acomete, que romperia enfim a promiscuidade que se criou entre quase todos os partidos e as maiores empresas do país, converte-se em outra coisa. Converte-se, fica evidente no teor monotemático dos jornais, em uma perseguição implacável a figuras específicas, a um partido, tendo como fim a anulação das eleições e a destituição imediata da presidenta. Neste quadro, à esquerda sequestrada parece restar apenas a defesa melancólica e necessária de um Estado democrático de Direito – e esse é o grito tão pouco idealista que a massa de vermelho repete, com razão, pelas ruas. À esquerda sequestrada parece restar a mera preservação de um governo legítimo que, no entanto, já não consegue agir como um governo de esquerda há muito tempo – ou talvez nunca o tenha sido.
Pelo ruído das panelas e buzinas, do alto da janela onde me alcançam tantos gritos, por um ínfimo instante sinto como se vivesse um apocalipse. Logo me acalmo e penso melhor: o equívoco de todas as narrativas apocalípticas é não perceber que sempre houve um amanhecer depois das trevas, sempre houve um dia seguinte. Volto então à escrivaninha e me permito escrever sobre um futuro de discussões mais férteis, da luta contínua pelo fim das opressões e dos privilégios, um futuro em que ainda caibam a justiça e o idealismo.
Gostaria que fosse meu texto mas é de Julian Fucks
Muito obrigado pelo comentário, J. Castro.
Mas não tem jeito. Nada, absolutamente nada convencerá o Miltinho.
Ele é completamente incapaz de ouvir argumentos contrários ao que ele pensa.
Sabe a história do gato que era tão exigente que quando serviam a ele café com leite ele tomava o leite e deixava o café?
O Miltinho é assim diante de qualquer argumento contra o PT e os petistas.
Um abraço, e obrigado!
Sérgio
Não é fácil fazer o que a lei e a Constituição determinam quando boa parte da opinião pública e publicada querem diferentemente. A independência do judiciário não é antídoto, apenas, contra réus poderosos ou perigosos, mas deve servir, também, contra os desejos do mercado, da mídia e da própria estrutura orgânica e corporativa do judiciário. O poder judiciário, em uma democracia, tem o dever de velar pelas minorias e pode insurgir-se contra apelos majoritários. Por isso, inclusive, diversamente de outros poderes, não é eleito por voto. Portanto, ao contrário do que alguns juízes pensam, antes de se preocupar em “ouvir a voz das ruas”, é preciso estar atento com o que a Constituição e as Leis dizem
E cá em 2019, temos uma visão um pouco mais clara da coisas, não é mesmo? E não é que teve golpe? A sangria foi estancada, como queriam as nossas velhas e espertas raposas da política.
E olha para onde é que o Brasil está caminhando atualmente…