Absolutamente ilhado e sentindo cada vez mais a falta de oxigênio, o governo Dilma Rousseff decidiu ir à guerra. Ou como disse um assessor presidencial: “agora é matar ou morrer”. Dada a ordem, o Palácio do Planalto passou a viver o seu faroeste, muito embora a turma que lá habite esteja mais para Frank Miller (Ian MacDonald) do que para o xerife Will Kane (Gary Cooper), personagens do genial filme de Fred Zinnemann.
No clímax imaginado por seus atabalhoados estrategistas a presidente partiria para o confronto final, duelando ao mesmo tempo com a Polícia Federal e o Congresso Nacional. Para não falar no Poder Judiciário e nos 65% dos brasileiros favoráveis ao seu impeachment, esse mar imenso de “golpistas”.
O que temos visto, contudo, tem sido um anticlímax, mais parecido com a chanchada “Matar ou correr”, contracenada pela impagável dupla de comediantes Oscarito & Grande Otelo. O golpe de mestre, a nomeação de Lula para ministro-chefe da Casa Civil, revelou-se um tiro n’água.
Imobilizado em seu raio de ação, o caudilho se vê envolvido em um emaranhado de pareceres da Justiça desfavoráveis à sua posse. O último, da ministra Rosa Weber, negou-lhe o habeas corpus impetrado no STF.
Mesmo se vier a ocupar o cargo (ainda cabe recurso da decisão da ministra Weber), seu poder de fogo e sua capacidade de aglutinar a base aliada serão praticamente nulos. O PMDB lhe dá as costas, Michel Temer o ignora soberanamente, a ponto de sequer querer ter uma conversa com o velho morubixaba.
Tão ou mais desastradas foram as bravatas do novo ministro da Justiça, Eugênio Aragão, para cima da Polícia Federal, com vistas a intimidar a instituição nas suas ações investigativas da Lava-Jato. Como se isso fosse pouco, tornou-se público o plano do Planalto de trocar a direção da PF.
É a aplicação de Maquiavel ao contrário. O governo anuncia o mal a conta-gotas, mas não o concretiza. Arca com o desgaste e aprofunda mais ainda seu isolamento.
Óbvio, não há a menor condição de abafar a Lava-Jato, de interferir diretamente nas investigações da PF, sob pena de enfrentar a “sublevação” da corporação, um clamor das ruas ainda mais forte e a indignação da opinião pública internacional.
A equipe jurídica do governo segue a mesma linha ao preparar recursos ao Supremo contra o pedido de impeachment, caso seja aprovado. Ao antecipar-se ao resultado, dá uma enorme contribuição ao clima de barata-voa na sua base parlamentar.
Há 15 dias o governo pensava ter 250 parlamentares contra o impeachment. Hoje acredita ter 172. Quantos serão na próxima semana?
Fácil entender tamanha movimentação. A expectativa do poder atrai mais do que o próprio poder. Faz sentido, portanto, a frase de um parlamentar da base governista: “eles que fiquem com o Titanic”.
Dilma sente a terra fugir-lhes aos pés, dá demonstrações de destempero, como no seu discurso no encontro com “juristas”.
Neste mar revolto importa aos democratas não aceitar o clima de bang-bang. O confronto, a radicalização, a pregação do ódio não são a praia dos brasileiros.
O Brasil fará a travessia para um porto seguro se houver a combinação da legitimidade das ruas com a legalidade do Congresso, com o estrito respeito ao rito processual do impeachment definido pela a Suprema Corte, a guardiã da Constituição e do Estado de Direito Democrático.
A ordem, a paz, a tranquilidade, a observância da separação e harmonia entre os poderes da República são as bandeiras.
Sem essa de matar ou morrer.
Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 23/3/2016.
Muito bom o texto, sem esta de matar ou morrer.
A dificuldade está em conciliar a legitimidade das ruas com a legalidade do Congresso. O congresso não representa o povo.
Que partideco mequetrefe é hoje esse tal PT. Não consegue nem reunir 172 gatos pingados para votar contra o impeachment. E aí se vê na ridícula situação de chamar impeachment de golpe. Merece esse triste fim, por todo o mal que causou ao Brasil.