“No lo permitiremos”.
Não permitiremos o que, cara pálida?
Se você entrar no Youtube e pedir qualquer vídeo mostrando uma fala de Nicolás Maduro antes ou depois das eleições parlamentares onde o governo bolivariano da Venezuela foi esmagado nas urnas e não tiver uma crise – de choro ou de riso -, procure um médico: você está doente. Seu senso de ridículo agoniza.
A imagem estereotipada do tiranete sul-americano de opereta, alguma coisa entre o Bananas, de Woody Allen, e os levantadores da espada da iconografia histórica da América Latina, renasce mais vigorosa do que nunca na pele desse caudilho pouco mais do que ridículo.
Maduro substitui o traje civil e civilizado dos governantes laicos e secularizados não por uma farda cheia de medalhas, velho estereótipo latino-americano, mas por um blusão cheio de estrelas, como o uniforme de um reserva de um time de beisebol esperando a sua vez de entrar em campo.
Não é que falte a esse tiranete sul-americano um projeto de país. Ele guarda em cada gaveta um projeto de vida para levar cada cidadão da Venezuela ao paraíso na terra. Não é por acaso que a Venezuela tem um ministério dos Preços Justos e outro da Suprema Felicidade. O que falta a ele e a seus apoiadores é o senso da realidade, que normalmente vem acompanhado de um apurado senso de ridículo.
No mais recente dos vídeos postados no Youtube, Maduro, com a fala pausada e solene dos caudilhos, aplaudido por uma sonolenta e burocrática claque de apoiadores, anuncia que a Venezuela está vivendo “una crisis contrarrevolucionária de poder” (seja o que isso for) e que está “dispuesto” a partir pra porrada.
Termina o vídeo repetindo pateticamente “revolución, revolución, revolución”, aplaudido por fardados e paisanos fantasiados de “la pátria”, como que a anunciar que ele e seu séquito estão prontos a fazer picadinho do resultado das recentes eleições, rasgar a fantasia, e fazer o que preciso for para garantir a sua permanência no poder.
No fundo, trata-se apenas disso: aferrar-se ao poder até quando for possível. “La pátria” e “la revolución” são conversa fiada para levantar a torcida – que parece cada vez mais mecânica, formada por fantasmas sem alma nem espírito, que aplaude não por entusiasmo mas por reflexo condicionado.
As ditaduras são patéticas, e tão mais patéticas se tornam quanto mais agonizantes estão.
Depois de ter perdido a maioria absoluta na Assembléia Nacional venezuelana, Maduro reagiu num primeiro momento – para perplexidade geral – como um político normal, que reconhece a vitória do adversário e parece disposto a tocar a bola para a frente.
Na verdade, a primeira reação deve ter sido de susto, porque logo em seguida o proto-ditador venezuelano começou a voltar ao cantochão normal: disse que as eleições foram fraudadas e anunciou que vai criar uma assembléia paralela, formada só por bolivarianos, e esvaziar os poderes da Assembléia Nacional. Ou seja: o dono da bola se zangou e ameaça sair com ela debaixo do braço e acabar com o jogo.
Na reunião do Mercosul, uma novidade. Sóbrio, discreto, sem arroubos, impassível e objetivo, o novo presidente da Argentina, Mauricio Macri disse: “Peço expressamente a todos os presidentes a libertação imediata dos presos políticos na Venezuela. Nos estados que fazem parte do Mercosul não pode haver espaço para perseguições ideológicas”.
Um raio em céu sereno. A chanceler venezuelana reclamou da “ingerência” e a presidente do Brasil elogiou o “processo eleitoral venezuelano” mas não disse uma palavra sobre os presos políticos.
Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 25/12/2015.
Dona Gilma jamais fará qualquer crítica ao governo bolivariano. Não irá criticar o seu sonho de consumo.A Yakusa é um empreendimento infantil perto dos bolivarianos sejam de lá ou daqui.