Fim de tarde, uma professorinha na flor de seus vinte anos caminha por uma alameda florida para encontrar-se com seu amor… FUÓÓM, buzina do Chacrinha no ouvido.
Cai na real, velhote, diria ele. A real é que professora não existe mais. Recebo a informação de uma senhora “da área”, diretora de escola. Didaticamente, explica que hoje o cargo, portanto o nome, é educadora.
Então vamos: Fim de tarde, uma educadorazinha na flor de seus vinte anos… Concordo, esse na flor de seus vinte anos também não está com nada; caducou faz tempo. Talvez, uma educadorazinha, no frescor de seus vinte anos. Piorou.
E fim de tarde? Serão esses, os momentos do ocaso, os mais idílicos de um dia? FUÓÓM… Bem, fiquemos assim:
Às dezoito horas, uma educadora de vinte anos anda por uma avenida cheia de trânsito, buzinadas e barulho, vai tropeçando nas barracas dos camelôs e nos pés dos indigentes que dormem na calçada, asfixiada pela poluição dos escapamentos, de olho na aproximação do trombadinha, pensando se conseguirá sobreviver quando entrar no vagão do metrô.
O namorado deu o cano, é bem próprio dele, um grosseirão que nunca chegou no horário, e ainda por cima tem mau hálito e uma vista torta, escarra na rua, e só sabe falar em ir para a cama. Como ela gostaria de viver em outra época, quando cenários e pessoas amáveis não estavam fora de moda, e ela poderia ser uma simples professorinha, feliz.
Junho de 2015
Tá difícil Valdir, o lirismo do texto abaixo seria impossível hoje em dia, não se formam professorinhas hoje em dia, onde estão as normalistas?
Normalista
Nelson Gonçalves
Compositor: (Benedito Lacerda E David Nasser)
Vestida de azul e branco
Trazendo um sorriso franco
Num rostinho encantador
Minha linda normalista
Rapidamente conquista
Meu coração sem amor
Eu que trazia fechado
Dentro do peito guardado
Meu coração sofredor
Estou bastante inclinado
A entregá-lo aos cuidados
Daquele brotinho em flor
Mas a normalista linda
Não pode casar ainda
Só depois que se formar
Eu estou apaixonado
O pai da moça é zangado
E o remédio é esperar.
Link: http://www.vagalume.com.br/nelson-goncalves/normalista.html#ixzz3dcnw0iDH
Boa, Miltinho! Você sabe que pensei nessa música quando li o texto do Valdir?
Um abraço.
Sérgio
Bela lembrança do Miltinho.
Já que é assim, entro com outra. É daquele lanterneiro, em SP funileiro, que além de consertar carros fazia alguns versos…
(Dizer que a tecelã faz pano, para rimar com piano, acho sublime.)
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Três Apitos
Noel Rosa
Quando o apito da fábrica de tecidos
Vem ferir os meus ouvidos
Eu me lembro de você
Mas você anda
Sem dúvida bem zangada
Está interessada
Em fingir que não me vê
Você que atende ao apito de uma chaminé de barro
Porque não atende ao grito
Tão aflito
Da buzina do meu carro
Você no inverno
Sem meias vai pro trabalho
Não faz fé com agasalho
Nem no frio você crê
Mas você é mesmo artigo que não se imita
Quando a fábrica apita
Faz reclame de você
Nos meus olhos você lê
Que eu sofro cruelmente
Com ciúmes do gerente
Impertinente
Que dá ordens a você
Sou do sereno poeta muito soturno
Vou virar guarda-noturno
E você sabe por que
Mas você não sabe
Que enquanto você faz pano
Faço junto do piano
Estes versos pra você.
Errata
Amigos, desculpem.
Sempre achei que a música fosse do Cartola, e de repente vejo que é daquele outro bobinho, o Noel.
Aproveitando: Quem não leu a coluna do Elio Gáspari neste domingo, 21, sugiro que o faça. Ele fala, e elogia muito, dois megalivros lançados pelo Frankllin Martins com toda a história da música popular brasileira, e as correspondentes obras para ser ouvidas na internet.
Errata da errata.
Onde se diz que as músicas historiadas pelo Franklin Martins podem ser ouvidas na internet, leia-se “um arquivo sonoro com cerca de quarenta horas de música”.
Obs
1. Estou sóbrio.
2. Aguardem a terceira errata.
Valdir, tome mais uma.dose.Creio que como eu voce se encantou pela professora.
PROFESSORINHA – Composição do mesmo Benedito Lacerda e Jorge Fáraj
Veja o lirismo destes versos.
Eu a vejo todo dia Quando o sol
mal principia A cidade a iluminar Eu venho da boemia Ela vai …
http://www.youtube.com/watch?v=RI8RIM83gng
Seguindo a dica do VALDIR fui até o site do Elio Gaspari. Curioso sobre quem seria Franklin Martins. Seria o jornalista, o ex-ministro e ex-guerrilheiro? Sim foi a resposta. O agora transformado em pesquisador de música popular lançou dois livros sobre música.
Neles está documentada a História política da música popular brasileira, desde composições do tempo do Império até a “Canção do Subdesenvolvido”, de 1961.
História e música poderào ser conferidas no site a seguir.
Som na caixa – Franklin Martins – Site Oficial – Conexão política Entre 1929 e 1932, há uma explosão na produção de música sobre política no Brasil. … A década de 30 foi uma época de ouro da música popular brasileira,
…www.franklinmartins.com.br/som_na_caixa_lista.php
Miltinho
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Os versos da professorinha são mesmo um primor. Vinham do fundo d’alma, diria um cronista daquele tempo. Pena que tudo isso acabou.
PS – Eu estava sóbrio mesmo! Não tenho desculpa para as ratas que provocaram as erratas.