A política brasileira pode ser de uma pobreza franciscana em termos de gestos, atitudes e idéias. Mas é um presente para os olhos quando se trata de fornecer imagens arquetípicas de situações dramáticas ou simplesmente patéticas.
A famosa foto de Jânio Quadros com um pé virado para a esquerda e outro para a direita, ou o rostinho insolente da menininha que recusa um aperto de mão ao general Figueiredo entraram para a galeria de imagens da história política brasileira.
A foto desta semana tem muito pouco de solene. Ela mostra uma imagem banal, quase ridícula. O autor é Pedro Ladeira, e está na capa da Folha de S. Paulo de quinta feira. Mostra uma imagem do deputado Leonardo Picciani, líder do PMDB na Câmara, com uma mão escondendo a boca (tentando evitar leitura labial, como fazem os jogadores de futebol?) falando ao telefone, com um plenário vazio atrás.
Presume-se que Picciani esteja convocando gente da sua bancada para comparecer ao plenário e dar quórum para tentar manter os vetos da presidente Dilma a alguns itens da pauta-bomba.
Entre terça e quarta-feira, logo depois de uma “reforma ministerial” do arco da velha, inspirada pelo condestável da República Luiz Inácio I (o Luiz Inácio II acabou sendo o sofrível advogado geral da União), o governo acumulou um colar de derrotas de fazer corar um Felipão de pedra.
Na terça-feira, a Câmara, com a base aliada supostamente “vitaminada” pela reforma ministerial, que colocou até o dono do restaurante Barganha à frente do Ministério de Ciência e Tecnologia, negou-se a dar quórum e consequentemente a manter os vetos da presidente a alguns projetos da pauta-bomba.
No mesmo dia, o Tribunal Superior Eleitoral resolveu levar adiante as investigações sobre o uso de propinas do petróleo no financiamento da campanha de Dilma.
A quarta-feira começou trágica para o governo: a Câmara continuou não dando quórum.
O governo recorreu ao STF tentando evitar a reunião do TCU que daria, mais tarde, a sua opinião sobre as pedaladas fiscais de Dilma. Nada feito. O STF negou o pedido.
No fim da tarde, a fatal reunião do TCU: o pedido de afastamento do relator Augusto Nardes foi negado por unanimidade. As contas foram reprovadas também por unanimidade.
Na falta de uma seleção de futebol para chamar de sua, alguns brasileiros foram à rua para soltar fogos e cantar o hino nacional em homenagem, imaginem vocês, ao Tribunal de Contas da União. A que ponto chegamos: às vésperas do início de um torneio eliminatório para a Copa do Mundo, o brasileiro sabe mais sobre Augusto Nardes do que sobre Douglas Costa.
Depois de sua quarta-feira negra, o governo reagiu com a estupefação de sempre. Uma parte acha que foi uma imprudência bater de frente com o Tribunal de Contas; outra parte acha que vale a pena bater de novo à porta do STF para tentar melar tudo.
O presidente da Câmara, Eduardo Cunha, do alto da sua conta no banco suíço, provavelmente recebeu o parecer do TCU como um presente digno de ser guardado a sete chaves. Como o homem que tem o poder de apertar o gatilho do impeachment, declarou que neste ano não fará nada para acionar a máquina, e deu a entender que sentará sobre a bomba relógio até quando se sentir incomodado com o tic-tac.
Como a reforma ministerial foi insuficiente para cooptar o baixo clero do PMDB, e como o PT já entregou os anéis e também os dedos, não se sabe o que mais virá agora.
Troca-se um impeachment por contas na Suíça? Façam suas apostas na roleta do balcão de negócios, senhores.
Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 9/10/2015.
Pelo jeito todo brasileiro tem conta na Suíça.