Salve-se quem puder e como puder. Desde que a Operação Lava-Jato se aproximou de forma incontestável do Planalto e do Congresso Nacional, essa tem sido a regra.
Com a lama já batendo no queixo, aqueles que deveriam ser exemplares na defesa e respeito aos poderes constituídos agem para desestabilizar as instituições. E, com a já conhecida desfaçatez, o fazem em nome da normalidade democrática.
Ninguém escapa: a presidente Dilma Rousseff, o vice Michel Temer, os presidentes do Senado, Renan Calheiros, e da Câmara, Eduardo Cunha – um showman especializado em pirotecnias -, o ex Lula e dirigentes do PT.
Na tentativa desesperada de se safarem, tentam fazer crer que são as instituições, e não eles, o cerne da crise.
Cada um despeja culpas em outros e todos culpam o Ministério Público, a Procuradoria Geral da República e a Polícia Federal por fazerem exatamente o que tem de ser feito: investigar e denunciar.
A categoria dos que se acham intocáveis parece nada ter apreendido com o Mensalão. Reincide nos delitos e na conduta pós-crime.
Espanta-se com as ações das diferentes instâncias da Justiça. Considera ingratidão a recusa do ministro do Supremo, Teori Zavascki, em abrandar prisões. Esperneia nas aprovações de delações premiadas, quebras de sigilo e de mandados de busca e apreensão em casas de políticos, como o que desbaratou a frota não declarada de carros de luxo do ex-presidente deposto e senador da base aliada, Fernando Collor de Mello (PTB-AL).
A saída, com menor ou maior estardalhaço – caso típico do presidente da Câmara, acusado de ter recebido uma bolada de US$ 5 milhões -, é fazer confusão, ameaçar, subir o tom, criar clima de ruptura institucional.
A tese de instituições e democracia em risco, levada ao extremo por Renan e Cunha na semana passada, já vinha povoando discursos de Dilma e de seu vice, de Lula e do PT. Acuados, todos reclamam de vazamentos seletivos de depoimentos à Justiça, denunciam interesses escusos genéricos e golpismo.
Os petistas, com uma imaginação fertilíssima, materializam maquiavélicas fileiras da direita, orquestradas para barrar o projeto do PT – sabe-se lá qual – e a volta de Lula, o grande, à Presidência da República.
O país já está mergulhado em crises política e econômica gravíssimas, com crescimento negativo, desemprego e inflação em alta, uma presidente da República frágil, impopular, sem crédito algum depois de se reeleger sob um manto de mentiras. Tudo o que não precisa é de uma crise institucional forjada ora por Lula e o PT, ora pelo Planalto, ora por Renan ou Cunha.
Todos, sem exceção, miram na destruição da credibilidade da Justiça para salvar suas peles.
Mas, por maior que seja a tentação do presidente do STF, Ricardo Lewandowski, que, em inexplicável segredo, se reuniu com Dilma em Portugal -, as instituições de Estado provaram e continuam a demonstrar que não caem em armadilhas. A expectativa é de que nem ao menos tropecem.
Do contrário, aí sim, a crise institucional se tornaria real. Uma temeridade.
Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 19/7/2015.
A arte de dizer besteiras.
Estabelecer uma diferença básica entre a mentira e o falar merda. Diz-se que o mentiroso esconde os fatos e inventa deliberadamente suas histórias; porem respeita a verdade, mesmo que fuja dela.
Já o outro não tem o mínimo de classe, consideração ou respeito e tenta induzir quem quer que seja a aceitar sua versão como verdadeira, procurando sempre chamar a atenção, construindo uma impressão sobre si mesmo.
Um perigo porque o mentiroso, embora reconheça o blefe, respeita regras e limites; já o “evacuador” revela o seu cardápio por meio de suas idéias ou palavras – ele é mais perigoso do que aquele que mente.
O orador, no entanto, não está mentindo porque não tem intenção de impor à platéia crenças que consideram falsas. Um político, quando sobe à tribuna para falar em público, só está interessado na opinião dos outros sobre ele. “Ele quer ser considerado um patriota, alguém que aprecia a importância da religião, que é sensível à grandeza de nossa história, cujo orgulho combina com a humildade perante Deus”. Travestidos de pastores do bem.