O Brasil, um viveiro de aloprados

Ontem, aqui neste Blog do Noblat onde faço minha pós-graduação, li dois artigos que se entrechocavam. O Papa Francisco, que anda tão preocupado em aumentar a audiência da Igreja Católica que às vezes exagera em bonomia e simpatia, disse “Se meu bom amigo, o doutor Gasparri, xingar minha mãe, pode esperar que levará um soco. É normal”.

Mas o Charlie Hebdo fez mais do que xingar a mãe de Francisco, xingou Maria, a Mãe de Deus, e eu não vi Francisco dar nem um peteleco, que dirá um soco. Ele fez o que as pessoas sensatas fazem diante de uma charge: se acham graça, sorriem. Se não acham, ignoram. E usam da liberdade que lhes é de direito: ler ou não ler, comprar ou não a revista ou o jornal do qual discordam.

Em seguida li uma crônica do Veríssimo, “Blasfêmia”, onde brilha a frase:  “Não posso imaginar uma blasfêmia maior do que espalhar os miolos de alguém com um AK-47”.

Enquanto a França e outras capitais européias fervilharam de indignação e ocuparam ruas e praças para condenar o crime que abateu 17 pessoas na tentativa de impor seu pensamento abstruso e acabar com a liberdade de expressão, aqui a marcha que desfila em passo de ganso é a dos aloprados.

Exemplo: dois eventos internacionais clamam pela atenção do Brasil. O Fórum Econômico Mundial de Davos, na semana que vem, e a terceira posse de Evo Morales, também na semana que vem. Não foi surpresa a escolha feita por dona Dilma.

Em Davos, o Brasil vai ter a oportunidade de apresentar sua nova equipe econômica. a dupla Levy e Tombini –  bem que o Charlie Hebdo podia retratá-los como Mutt e Jeff – vai se apresentar em Davos, e o que esperamos é que a mensagem dos dois redesperte a confiança no Brasil. Estamos precisando.

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Na Bolívia, quando muito, dona Dilma vai aprender a como se vestir para a terceira posse.

O que também é vital, aliás, urgente, é melhorar nossas escolas. Andam dizendo que o novo Ministro da Educação pretende introduzir um currículo nacional com a volta das disciplinas “exatas” e “humanas”. Seria voltar ao que vigia no ministério de Gustavo Capanema (1934-1945). Se for verdade, é para aplaudir…

Tenho outra torcida: que salvem o Museu Nacional de História Natural da Quinta da Boa Vista, Rio de Janeiro, com um acervo muito rico e que devemos, em sua maior parte, à Dona Leopoldina, mãe de Pedro II, e a seu filho.

Quem visita o Museu na Quinta saberá apreciar melhor o Museu de História Natural de Nova York, ou o de Londres. É muito comum ver um turista que baba nos Museus de História Natural no exterior mas nem conhece o nosso, aqui na Quinta. Mas ele não tem culpa… Não tem metrô para lá, fica longe do Centro e está abandonado…

É muita alopração, não é, não?

Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 16/1/2015.

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