Nas crises alguns governantes se agigantam e entram para a história, como foi o caso de Churchill na Segunda Guerra Mundial. Diante do risco de o Império Britânico desaparecer do mapa, o então Primeiro Ministro disse a verdade a seu povo: “Só tenho para oferecer sangue, sofrimento, suor e lágrimas. Temos perante nós uma dura provação (…) muitos e longos meses de luta e sofrimento”.
A determinação de Churchill foi essencial para unir seu povo e garantir a vitória contra Hitler e o nazismo.
Mas as crises também deixam nus governantes que não estão à altura do seu tempo, não entendem a gravidade do momento e, por isso mesmo, iludem seu povo, sonegando-lhe a verdade.
Foi o caso de Neville Chamberlain, antecessor de Churchill, que assinou o Acordo de Munique com Hitler. Ele acreditava que, fazendo concessões e jogando para a platéia, seria possível evitar uma nova guerra entre a Alemanha e o Reino Unido. Após entregar a Checoslováquia de mão beijada, Chamberlain foi recebido por uma multidão, que foi ao delírio quando ele acenou com uma folha de papel e pronunciou o famoso discurso “paz para o nosso tempo”.
Um ano depois começou a Segunda-Guerra Mundial. O triunfalismo de Chamberlain teve um preço altíssimo para a humanidade.
Os dois exemplos servem para reflexão sobre qual será o comportamento da presidente Dilma em seu segundo mandato. Para saber se ela estará, ou não, a altura das exigências do momento.
Tememos que a presidente esteja mais para Chamberlain do que para Churchill. Nos últimos quatro anos imperou em seu governo uma leitura e condução absurdamente cor-de-rosa da economia, bem como a mania compulsiva do governo para o autoelogio e o apelo a patriotadas sem sentido.
Na campanha eleitoral essas tendências se aprofundaram.
Pois bem, hoje, quarta-feira, ao voltar de um descanso na Bahia, começa, de fato, o segundo mandato de Dilma. Até agora ela não transmitiu aos brasileiros a dimensão da crise econômica, moral e política que o país atravessa.
Na economia tivemos quatro anos perdidos e recuperação desse tempo cobrará um preço enorme aos brasileiros. Não se ouviu da presidente uma única palavra sobre isso. Ao contrário, seu discurso de posse vendeu a imagem de que seu primeiro governo foi um mar de acertos. Tanto que no segundo mandato serão operados apenas alguns reajustes “com o menor sacrifício possível”.
As viúvas sem pensão, os desempregados sem seguro, os 800 recém demitidos da Volks (num setor que já dispensou mais de 11 mil trabalhadores, segundo a ANFAVEA) e toda a população brasileira vai conhecer em breve o tamanho desse “menor sacrifício possível”.
Não há “ajuste fiscal” indolor. Os brasileiros têm o direito de saber o tamanho dessa dor, mas a presidente sonega-lhes a verdade, assim como Chamberlain sonegou aos ingleses.
Diante da crise moral, o que faz a presidente? Desconversa, cria cortina de fumaça, ora dizendo que a corrupção na Petrobrás foi produto da ação de alguns “maus funcionários”, ora apelando para a tese do inimigo externo que (em cumplicidade com seus agentes internos, a oposição, é claro) estaria operando um cerco especulativo a Petrobras.
Dilma não está inovando ao inventar um “inimigo externo” para eludir a realidade interna. Com sinal trocado, o regime militar utilizou a mesma tática. A teoria da Segurança Nacional de Golbery dizia que os grandes inimigos do Brasil eram o movimento comunista internacional e seus agentes internos.
E na Venezuela o presidente Maduro usa a mesmíssima tática, assim como a utilizou o general Gualtieri, na Guerra das Malvinas.
O novo ministério segue o mesmo padrão de governabilidade dos últimos doze anos. Esse modelo na melhor das hipóteses desagua no toma-lá-dá cá, no aviltamento da política, na institucionalização do patrimonialismo.
E na pior das hipóteses em escândalos tenebrosos, tipo “Mensalão” e “Petrolão”.
Não esperem, portanto, um segundo mandato de Dilma à altura do seu tempo.
Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 8/1/2015.