A presidente Dilma Rousseff está muda. O ex Lula, idem. Há mais de um mês nenhum deles dá um pio. Receio de cobranças sobre a adoção de medidas econômicas ortodoxas, que contrariam o que foi dito em campanha? Difícil crer. Mais provável atribuir o silêncio ao dito popular “em boca fechada não entra mosca”, inseto que prolifera em ambientes fétidos como o do escândalo bilionário na Petrobras, cada dia mais próximo da cadeira de ambos no Planalto.
Assistem a tudo calados. Do bombardeio de Sergio Gabrielli, ex-presidente da petroleira, indicado por Lula, que, sem cerimônia alguma, aponta a responsabilidade de Dilma no negócio absurdo da aquisição de Pasadena, às delações de presos assegurando que o dinheiro da corrupção tinha como destino o caixa do PT e a compra de aliados. De relatos do TCU sobre os desvios à inclusão do ex-ministro da Casa Civil de Lula, o mensaleiro José Dirceu, na trama.
A mudez permite toda sorte de especulação e um amontoado de sandices. Mas, combinado ou não, o diabólico é que a maior parte das versões favorece o PT e, em especial, Lula, aquele que jamais desencarnou da Presidência, eterno candidato.
Fala-se a rodo de desavenças entre afilhada e padrinho, atribuindo a Dilma a capacidade de isolar Lula, como quis fazer crer a senadora Martha Suplicy (PT-SP) na emblemática entrevista à jornalista Eliane Cantanhêde. É preciso muita imaginação para ver em Dilma e no aloprado ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, alguma competência para enxotar Lula.
Outros insistem que Dilma estaria constrangida e teria repassado ao ministro da Fazenda, Joaquim Levy, a tarefa de dar publicidade às necessárias más notícias de aumento de impostos e corte em benefícios trabalhistas. Como se fosse possível atribuir escrúpulos desse tipo a quem não tem qualquer pudor em mentir, que antecipara com todas as letras que faria o diabo para vencer as eleições.
Dilma ganhou, levou e não sabe o que fazer com a vitória. Tem a caneta, mas nem isso sabe usar, como mostra a confusão que arrumou na partilha do primeiro escalão. Já Lula, não só está no jogo, como é o dono da bola. É a ele que se diz amém.
Ao que tudo indica, Lula e sua turma trabalham na perda zero. Preferem ser vistos como quem está ao largo, longe de Dilma e de medidas antipopulares. Querem continuar sendo os porta-vozes dos movimentos sociais e da “esquerda”, aqueles que resistem ao neoliberalismo a que Dilma se viu obrigada a ceder para consertar o país que ela estragou.
Ao mesmo tempo, ocupam a maioria dos escalões menos visíveis do governo, garantindo empregos generosos para a militância mais aguerrida.
Lula e os seus querem tudo. Ser governo, ser oposição, ocupar todos os espaços.
O ex poderá se lançar daqui a quatro anos como líder da resistência a uma Dilma que não lhe deu ouvidos, ou, se Levy conseguir êxito na economia, como o responsável pela escolha e indicação do ministro.
A Petrobras, que financiou vitórias e deu tantas alegrias a Lula e Dilma, é a pedreira que tentam dinamitar em silêncio para desobstruir o caminho. Mais do que qualquer um, eles sabem que as consequências da roubalheira podem ir muito além da programada mudez.
Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 25/1/2015,