O novo pacote fiscal da presidente Dilma Rousseff tem tudo para se transformar em rara unanimidade nacional, todo mundo contra, à exceção da Federação Brasileira de Bancos. Em um só lance, a presidente conseguiu desagradar a gregos e troianos.
À sociedade, aos empresários, ao Congresso Nacional, por causa da proposta de ressurreição da CPMF, imposto de triste memória e simplesmente execrado pelos brasileiros. Mas também ao funcionalismo público e ao braço esquerdo do lulopetismo, os chamados movimentos sociais, como o Movimento dos Sem Teto. Eles agora cantam: “você pagou com traição a quem sempre lhe deu a mão”.
Virou aquele negócio da casa de pouco pão. Todo mundo reclama e todo mundo tem razão.
Têm razão os empresários ao gritar contra a volta de um imposto de efeito em cascata, com impacto negativo na competitividade do parque produtivo nacional e nas nossas exportações E é mais justificado ainda é o furor da sociedade. É nas costas dela que foi depositado o fardo mais pesado.
Não deixam também de ter razão as lideranças dos servidores públicos, do MST e de outros movimentos, inconformadas que estão com as sucessivas quebras de compromissos. Na campanha eleitoral, Dilma jurou que não tocaria nos direitos dos trabalhadores, nem que a vaca tossisse, e não mexeria, em hipótese alguma, nos programas sociais. De todas as suas promessas, não sobrou pedra sobre pedra.
Mas isto já é outro assunto. Voltemos ao pacote fiscal.
Se era mais do que previsível a gritaria geral, por que Dilma optou por uma proposta que une todos contra ela?
Só há uma explicação. Depois da trapalhada do orçamento deficitário ela precisava sinalizar ao mercado que estava fazendo algo. Tentou, então, a lógica cartesiana: “é melhor fazer alguma coisa do que não fazer nada”. Só que na vida não é bem assim. Até Descartes concorda que, se for para fazer bobagem, é melhor deixar tudo como está.
Mas como nas hostes governistas campeiam a indigência e a mediocridade, o orçamento deficitário chegou a ser saudado como exemplo de transparência e de exercício democrático.
A ilusão não resistiu nem mesmo duas semanas. Foi enterrada sem choro nem vela. Bastou a S&P baixar a nota do Brasil para o governo fazer meia-volta. Rapidinho.
Agora, acometida por uma onda de maquiavelismo, mas longe de ter a competência da pregação de Maquiavel, a presidente joga suas fichas no patriotismo do Congresso Nacional e deixa deputados e senadores em uma saia justa. A conferir se eles irão por suas cabeças na guilhotina, por livre e espontânea vontade.
As chances de o Parlamento aprovar o adiamento do reajuste dos servidores federais, com o funcionalismo público em greve e galerias lotadas de grevistas é praticamente nenhuma. De mexer nas emendas parlamentares e de aprovar emenda na Constituição para restabelecer a CPMF, nem se fale.
O Legislativo só aprovaria medidas tão impopulares se houvesse respaldo na sociedade. Se o governo tivesse uma força enorme e uma coesão profunda em sua base, o que está longe – e põe distância nisso – de ser realidade.
A presidente tem plena consciência da fraqueza do seu governo, da erosão de sua base. Tanto é assim que mandou para a rubrica do “futuro a Deus pertence” qualquer proposta de reforma estruturante. Mexer na previdência no seu segundo mandato? Esqueçam.
Por essas e outras não dá para levar a sério o novo ajuste fiscal. É mais uma peça de ficção que, desta vez, tem o condão de provocar insatisfação a gregos e troianos de uma forma ampla, geral e irrestrita.
Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 18/9/2015.
Temer, PSDB e MDB veem aí sob as asas de Cunha e Renam.
Os brasileiros mais pobres estão aderindo a cantilena.
Quem são os gregos, quem são os troianos?
Quem é ‘fla’ quem é ‘flu’;
Quem é ‘ativista’ e quem é ‘coxinha’;
Quem é ‘nós’ e quem e ‘eles’;
Quem é quem no país.