Em abril de 2013, durante encontro com prefeitos na Paraíba, Dilma Rousseff surpreendeu a todos com sua sinceridade: “Podemos fazer o diabo quando é hora de eleição”. Confessou e fez, como é sabido. E o belzebu cobrou. Com juros e correção, sem carência ou parcelamento. Pior, encarnado em gente experiente nesse tipo de pacto.
Mais do que a paralisia do país, a economia estagnada, a inflação e o desemprego em alta, os demônios que assombram Dilma estão incorporados nos presidentes da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), antigo desafeto, e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), fiel aliado até poucos dias. E em seu padrinho Lula.
Cunha e Renan têm se divertido em lançar chamas, assustar e pregar peças no governo.
Ainda que os objetivos de ambos não sejam nada republicanos, há muito não se via um Parlamento tão ativo. Até altivo. Câmara e Senado passaram a reivindicar suas prerrogativas, falar alto, questionar o governo.
Não há, no entanto, o que comemorar. O Legislativo só parou de dizer amém a partir das diabruras dos peemedebistas. E só se manterá assim enquanto for do interesse do PMDB, partido que mais do que qualquer um sabe o momento de aderir – e gozar as benesses do paraíso -, e a hora de escapar do incêndio, não raro colocando mais lenha na fogueira.
Mas é Lula quem melhor personifica o inferno de Dilma.
Safo como ninguém, Lula é senhor do bem e anjo do mal. Reúne-se com a afilhada, presta-lhe solidariedade, lhe acarinha o ego. Chegou a defender o ajuste fiscal proposto pela pupila, mesmo se o PT ficasse contra. E o fez na cerimônia de aniversário do partido. Registre-se: uma única, apenas uma vez.
Ao mesmo tempo, estimula a reação petista contra as medidas econômicas do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e incita o exército de Stédile a ir às ruas. Aposta na esquizofrenia de uma tropa comandada – e paga – que carrega cartazes de apoio a Dilma e grita contra o que o governo dela tem de fazer.
E vai além. Depois de cada encontro com a presidente, o ex faz a imprensa saber que Dilma insiste em não ouvi-lo. Uma suposta briga entre os dois, ocorrida no Planalto, ilustra bem isso. Lula teria perdido a paciência, batido os punhos na mesa, gritado, disparado palavrões.
Quer porque quer que o distinto público creia que os desacertos do governo devem-se ao fato de Dilma não seguir os conselhos dele. Que ele, só ele, é a salvação.
É perverso, diabólico.
Pior para Dilma, que nada aprendeu e acha que tudo sabe. Que não tem como quitar a dívida de um pacto que não é para iniciantes, mas que ela contraiu. Que colocou o coisa ruim na roda, admitindo fazer o diabo na hora de eleição.
Esperto e experiente, Lula faz o diabo sempre. E a altíssima conta que o capeta cobra ele empilha nos ombros dos outros.
Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 29/3/2015.