“A perda do poder é sentida física e emocionalmente, as sensações vêm em ondas, em momentos de grande angústia. Você acha que está bem, de repente alguém diz uma palavrinha, ou você encontra no fundo do armário uma lembrança, ou ouve uma piada ou música daqueles tempos, e isso traz uma dor forte como um soco, você a sente em suas entranhas, em seus nervos”. (Julia Gillard, primeira mulher a ocupar o cargo de primeira-ministra australiana [2010-2013], em artigo para o The Guardian a propósito da perda do poder).
“O poder é o maior de todos os afrodisíacos.” (Henry Kissinger).
“Fortuna diz respeito às circunstâncias, ao tempo presente e às necessidades do mesmo, à sorte da pessoa. ‘Virtú’ é justamente a capacidade do político em controlar as ocasiões e acontecimentos, ou seja, a fortuna. (Maquiavel, ao falar sobre Fortuna, destino, e Virtù, o controle da Fortuna).
E Lula?
Lula está no palanque de dona Dilma. Suponho que passe pelo que Julia Gillard candidamente diz que passa; que concorde honestamente com Kissinger; que saiba distinguir entre ‘Virtù’ e Virtude, e que, na beira dos 70 anos, conclua que a Virtude está no meio e que ela é uma grande alavanca para a ‘Virtù’.
Se torço por ele? Não. Uma vez a Cascais e nunca mais. Votei nele em 2003 e não gostei do que vi, nem gosto do Brasil petista. Não gosto do que ele fez conosco, não gosto dos homens e mulheres de sua entourage, deploro as relações fraternas que estabeleceu entre o Brasil e o que há de pior neste mundão de Deus, volto a sentir aquele gosto amargo do Brasil, ame-o ou deixe-o.
Mas isso não me leva à cegueira. E o que vejo de gente dando um trato no retrato do velho não está no mapa. Preparam-se para botar o retrato do velho outra vez no mesmo lugar…
Talvez seja a proximidade do Carnaval. A marchinha é boa, foi um sucesso retumbante e lembra tempos de alegria, confetti e serpentina.
Não sei como explicar, vou tentar: o Carnaval era uma festa popular. Blocos e sambistas nas ruas dos bairros faziam da cidade um lugar feliz. As escolas de samba na Avenida Rio Branco eram ricas da maior riqueza, da riqueza da alegria que vem da alma e da herança recebida de nossos ancestrais. Havia barões e baianas de verdade. Nada era terceirizado. O barão sabia que durante três dias era um barão e que seu baronato, cheio de estrelas no chão para sua baronesa pisar, era seu feudo e se não era ‘minha casa, minha vida’, era lindo e era dele e não do governo…
Isso é nostalgia? Pode ser. É natural que seja. O progresso, essa amarga faca de dois gumes, tirou o que o Brasil tinha de melhor e não nos deu o que o mundo lá fora tem de melhor. Ficamos no pior dos mundos: entre os castristas e os bolivarianos.
Mas é quase Carnaval e, portanto, lá vamos nós:
Ô abre alas…
Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, e 21/2/2014.
Amo o Brasil apesar do gosto amargo! Alá, la ô… ô… ô… aqui nasci, aqui vivi, aqui morri.