Não digo “nasci desse jeito”, porque quando cheguei ao mundo não havia televisão. Mas posso dizer “cada um é como é”. E reconhecer que sou um desajustado em relação ao que Stanislaw Ponte Preta chamava “máquina de fazer doido”.
A programação da TV certamente oferece boas coisas (estou sendo falso, não acho inteiramente isso), mas vejamos. Por gesto solitário contra a exacerbação da violência na TV, resolvi não assistir mais a filmes em que pessoas usem armas, nem que seja um mixuruca de um revólver. Nisso, já fiquei sem a maior parte do que é exibido.
Certa vez, passando de canal, vi um homem em pé em um terreno. No segundo seguinte, dois cabos com pesos nas pontas, vindos cada um de um lado, esmigalham a cabeça do sujeito. Altamente instrutivo.
Vou restringir estas minhas confissões à TV paga, aquela que nos trata por “assinante”. Não temos, em casa, todos os canais do cine isto, cine aquilo, ou da outra, a que ensinou a classe média a pronunciar inglês (eit bi…). Mas tenho o suficiente para não gostar.
Quando me sinto um ET, e me proponho a ligar a máquina, e encontrar o que ver, uma das tentativas são canais com proposta cultural. O da fundação paulista já teve ópera, teatro, balé, um notável programa de leitura de poemas. Não sei se ainda tem (não acredito), mas outro dia, em minha busca, dei com esse artigo raríssimo nas TVs: futebol. O que seria dos amantes do esporte paixão sem o socorro da fundação paulista?
Aceito se disserem que me falta cultura, e sobra implicância, mas tenho meus posicionamentos. Em certos canais culturais, como aquele do comércio, há, entre muita entrevista e falatório, números de dança. Gosto do gênero. Mas só quando os participantes dançam em pé. Os que rolam e se arrastam pelo chão, dispenso. Assim como um grupo, outro dia, vestido com calção e camiseta, em sua coreografia de academia de ginástica.
Há o noticiário. Os que vejo, os News global e mitral, acho de boa qualidade. Lógico que nenhuma enchente, tormenta, incêndio, em qualquer ponto do globo, passarão batidos, porque oferecem imagens fortes. E no fim da noite, no mitral, quando o pacote de últimas notícias é repetido mais uma vez, sem nenhuma nova, entra o material das agências, com a relação dos mortos.
Trinta mortos na Síria, dez no Egito, trinta no Paquistão, seis no Sudão, etc., etc.. Outro dia noticiaram dois mortos em um acidente de trem na Bélgica. Puxa, como eu poderia ir para cama sem saber disso?
Os que se deram ao trabalho de ler estas idiossincrasias podem pensar: só há um jeito, cara; se interna. Não posso, meu plano de saúde não cobre.
Julho de 2013
Porra Valdir me senti você. Fico a noite toda de controle na mao, nem tv aberta e nem fechada.
Ainda bem que tem texto do Valdir para eu rolar de rir. Se a gente dependesse da programação da TV, rir, nem pensar.
Delícia pura, Valdir.
Valdir,
concordo, concordo. Às vezes, no entanto, o futebol (o dos times, não o da Fifa) nos salva, não? Ontem, no jogo do Galo, abençoei a existência de toda e qualquer tevê.
Abraço solidário
Vivina