Quase não houve show

Eu tinha um show com o Geraldo Vianna e o Trio Amaranto, no Sesc Palladium, às 8 da noite do último domingo. Depois de uma tarde calma e alegre com filhos e netos, saí de casa com uma hora e meia de antecedência. Com o trânsito normal não demoraria 15 minutos para chegar ao destino.

Aí é que entra a falta de organização e previsão das autoridades responsáveis pela circulação de veículos e pessoas em nossa cidade. Em qualquer capital, quando uma aglomeração pública é autorizada, é primário que se anuncie e se ponha avisos, eletrônicos ou através de guardas, para que o motorista faça a escolha correta de seu itinerário.

Vindo pela Avenida Antônio Carlos, dois são os caminhos para se chegar ao centro. Um pelo viaduto que leva à Avenida Afonso Pena e outro pelo viaduto que leva à Rua da Bahia. No ponto em que o cidadão tem de se decidir não havia nada. O taxista que me conduzia optou pela segunda via. Depois de percorrer alguns metros, vimos a desordem à nossa frente. Com o agravante que não há, escolhida a direção, possibilidade nenhuma de alterar o rumo.

Um longo e sufocante andar de tartaruga nos foi imposto. Gastamos cerca de cinquenta minutos para percorrer menos de quinhentos metros. Era uma balbúrdia de carros buzinando, um desentendimento total. Sinais se abriam e fechavam sem que ninguém andasse um metro.

Era uma concentração na Praça da Estação e, nessa altura, eu que me encaminhava para participar do “Três Estações-Caymmi” já estava temendo não chegar a tempo à minha obrigação e prazer. O tempo corria e nada me aliviava. Depois de muita paciência e espera, chegamos à boca da Rua da Bahia. Os da frente se movimentaram e o táxi, enfim, viu espaços se abrirem. Quando íamos atravessar a esquina, um veículo à nossa frente bobeou e quando íamos passar, um policial fechou nossa passagem para que uma multidão atravessasse. Inquieto, virei para o motorista e disse algo como “puta merda, que azar”.

Eis que o PM contorna o taxi e me pergunta: “ o que o senhor disse?”

Nada, estou conversando com o taxista. Nada disso, ele retrucou: o senhor me mandou tomar naquele lugar. Saia do carro, o senhor está preso. Me dê seu documento.” Surrealismo total. Eu entreguei o documento, mas não saí do táxi que, agora, no meio da rua passava a atravancar os que vinham atrás.

Mais uns quinze minutos se passaram e disse aos colegas dele que eu não falara com a “autoridade”. Quando já me conformara em não chegar a tempo ao meu compromisso, desci, conversei com ele , que parece que consultou seus superiores. Disse-me que como eu tinha bons antecedentes não me prenderia.

Entendi, por sua fala, que estava muito chateado por gastar o seu domingo trabalhando. Ministrou uma pequena lição de urbanidade mas, antes de nos liberar, ameaçou o taxista por ter dito que eu não dissera nada para ele, que estávamos falando entre nós.”Nunca mais fique a favor do cliente.”

Seguimos nosso caminho, agora aberto e cheguei em cima da hora ao teatro. Mas não posso me esquecer de como é desagradável conviver com a prepotência dos que se sentem donos da verdade.

 Esta crônica foi originalmente publicada no Estado de Minas, em abril de 2013. 

Um comentário para “Quase não houve show”

  1. Uma sociedade policialesca. De dedos duros e policiais prepotentes. Banalização do poder transformado em autoritarismo e prepotência.
    Já recebi ameaça de prisão por desacato, apenas por exigir do policial o cumprimento de regras e respeito ao estacionamento reservado a idosos, com a retirada de veículos em desrespeito a lei.

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